Pacto federativo: dívidas dos estados e o equilíbrio das contas
Marcus Pestana, presidente do PSDB em Minas, critica gestão deficiente do Governo do PT que tenho ganho financeiro com a dívida dos estados.
Dívida estadual, pacto federativo e renegociação
Poucos sabem que a estabilização da economia foi um processo longo e cheio de desafios, muito além do simples lançamento da nova moeda – o real. Feita a transição monetária, foi necessária uma ampla reforma fiscal, que teve muitos capítulos.
O saneamento e a privatização dos bancos estaduais, o Proer, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o programa de desestatização, a política monetária rígida, para compensar a fragilidade fiscal, e a renegociação da dívida dos Estados e dos municípios.
Até 1997, o perfil do endividamento de Estados e municípios maiores estava preso a taxas de juros estratosféricos e rolagem no curtíssimo prazo. Eram títulos negociados no mercado (dívida mobiliária) ou Antecipações de Receitas Orçamentárias (AROs), contratadas nos bancos com custos exorbitantes. A dívida contratual com organismos internacionais (Bird, BID, OECF etc.) ou nacionais (BNDES, Banco do Brasil, CEF) era um percentual muito baixo do estoque total de dívida.
A política do Banco Central de taxas elevadas de juros para a defesa da moeda nacional – já que a âncora fiscal era frouxa – levou os Estados e os maiores municípios a rolarem parcela crescente dos juros, além da rolagem do principal. Não havia amortização real. A tendência era explosiva e insustentável. Uma verdadeira bola de neve. O cenário exigia uma mudança de atitude.
No final de 1997, foi sancionada a Lei nº 9.496/97, que estabelecia as diretrizes para a renegociação da dívida. Extinguiram-se as possibilidades de Estados e municípios lançarem títulos no mercado e contraírem as operações de curto prazo (AROs). O governo federal assumiu a dívida mobiliária, o estoque de AROs e outras dívidas acumuladas. Consolidou e transformou em dívida contratual, com 30 anos para pagar, com juros variando de IGP-DI+6% a 9%, dependendo do grau de amortização à vista com a venda de ativos. É preciso ficar claro que o governo federal subsidiou os Estados e municípios, já que a Selic, que corrigia a dívida mobiliária e as taxas de juros cobradas pelas AROs, eram muito superiores.
Ainda assim, entre 1998 a 2011, a dívida dos Estados saltou de R$ 93,24 bilhões para R$ 369,4 bilhões. Um crescimento de 296,2%. Minas Gerais devia R$ 14,8 bilhões, pagou R$ 29,1 bilhões e ainda deve R$ 58,6 bilhões ao governo federal. Diante de tanta bobagem dita sobre esse assunto, é fundamental clarear que a renegociação de 1997 foi necessária e boa para os Estados, e que o crescimento do estoque de dívida é preponderantemente financeiro.
Hoje, a situação se inverteu. O governo federal tem um ganho financeiro inexplicável sobre os Estados. Capta a Selic de 9,5% e empresta a até 14,4%. Isso parece agiotagem.
A Câmara dos Deputados instalou uma Comissão Especial para discutir uma nova repactuação da dívida. Isso é fundamental para as finanças estaduais e o equilíbrio federativo.
Tucanos se reúnem no Rio para definir linha de ação na construção de uma nova agenda para o Brasil
Gestão Pública, Desenvolvimento Econômico, Desenvolvimento Social
Fonte: Denise Nothenburg – Estado de Minas
Cavalaria tucana
Depois de passarem este primeiro ano do governo Dilma Rousseff praticamente isolados em suas brigas internas, os tucanos parecem dispostos a sair do casulo e da mesmice. Pelo menos é esse o plano com um seminário hoje, no hotel Sheraton, na Avenida Niemeyer, um endereço nobre entre Leblon e São Conrado, no Rio de Janeiro. E, apostando nos tempos de alegria que os economistas e sociólogos renderam ao partido, como uma era de ouro nos anos 1990, é a eles que a legenda agora recorre para elaborar a “A nova agenda: desafios e oportunidades para o Brasil”, o pomposo título do encontro.
A lista de palestrantes mescla gente nova no ninho e vozes experientes na área pública. Na ala dos menos conhecidos em Brasília estão os economistas Mônica de Bolle, Armando Castelar, Marcelo Caetano, André Médici e o sociólogo Cláudio Beato, que coordenou o programa de governo de Antonio Anastasia em Minas Gerais. Os rostos carimbados na capital da República são os pais do real, Edmar Bacha e Pérsio Arida, e os ex-presidentes do Banco Central Gustavo Franco e Armínio Fraga. E também o sociólogo, cientista político e administrador Simon Schwartzman, que já presidiu o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Parece ironia reunir os pais do Real para jogar o PSDB no futuro, mas não é. O PSDB sabe que perdeu seu discurso da estabilização da economia como pilar do avanço social que o Brasil obteve nos últimos anos. Essa conta do bem foi para o portfólio de Lula, que, ao longo dos últimos nove anos, abriu um diálogo direto com a população, com seu linguajar simples e de fácil entendimento por todos os brasileiros. Nesse período, o PSDB sentiu o gosto amargo de três derrotas eleitorais. Nas três campanhas presidenciais faltou ao PSDB a coragem de defender o governo Fernando Henrique Cardoso e as privatizações. Na área de telefonia, por exemplo, foi essa iniciativa que permitiu a popularização do celular.
A avaliação do partido é de que não adianta brigar pelo que passou e sim olhar para frente, usando os mesmos atributos que permitiram a criação do Real – a ousadia e o conhecimento técnico. E a partir daí, feito o programa, o próximo passo é pedir aos marqueteiros que embalem tudo para presente, em um pacote bem bonito para ser exibido no horário eleitoral gratuito. Foi assim que funcionou nas duas campanhas vitoriosas de Fernando Henrique Cardoso que, aliás, irá encerrar o seminário na tarde de hoje.
O novo plano vai incorporar segurança pública, previdência social e medidas criativas de promoção doe empregos. Marcelo Caetano é claro num artigo que escreveu recentemente: “A política ideal é aquela que oferece aos cidadãos alternativas de saída da pobreza por meio do seu trabalho e não a que simplesmente reponha renda quando perderam condição de gerá-la”. É uma crítica ao programa que transfere renda sem dar as condições de empregabilidade ao cidadão, leia-se Bolsa-Família. A nova classe C quer algo mais e é isso que os tucanos querem se preparar para oferecer.
O seminário é um ponto de partida, mas politicamente não resolve o crucial: mostrar uma unidade no PSDB. Prova de que nem tudo vai bem no ninho é a ausência do ex-governadorde São Paulo José Serra. Ele avisou que só volta ao Brasil na terça-feira. A não ser que chegue hoje de surpresa, estará fora das discussões, portanto se sentirá à vontade depois para criticar qualquer projeto que sair da reunião.
Serra não convive bem com Gustavo Franco e nem Pérsio Arida, economistas convidados. E, a olhar a composição do debate, a preferência por Aécio Neves é clara. Cláudio Beato, que estará à mesa no debate sobre a agenda social do Brasil, é da UFMG e coordenou vários programas do PSDB mineiro. Como dizem alguns tucanos, não há mais divisão no PSDB. A maioria é Aécio. E agora só falta montar um programa que sirva de alicerce ao candidato. Para isso, vem a cavalaria de FHC e do próprio Aécio. Não estarão ali como palestrantes nem Mauro Ricardo Costa nem Andrea Calabi, economistas ligados a Serra. A transição do PSDB começa hoje.
Senador Aécio Neves diz que PSDB precisa ser o partido da coragem e da ousadia para executar as ‘reformas que o PT abdicou de fazer’
Fonte: Assessoria de Comunicação do senador Aécio Neves
PSDB vai propor nova agenda para o Brasil, diz Aécio Neves
Pesquisa feita pelo PSDB mostrou que o Partido dos Trabalhadores (PT) já é identificado com a corrupção e a ineficiência
O senador Aécio Neves (PSDB/MG) declarou, nesta quinta-feira (22/08), que o PSDB proporá uma nova agenda para o Brasil, baseada em educação e serviços de saúde de qualidade, além da preocupação com o meio ambiente. O senador destacou a importância para a população da boa gestão dos serviços públicos e afirmou que o país precisa de um novo planejamento que permita o crescimento da economia com desenvolvimento social. Ele assegurou que esta será uma das prioridades do partido, que encomendou pesquisa para apurar as expectativas da população em relação ao Brasil e ao próprio PSDB.
Vamos construir uma nova agenda, que fale em educação básica de qualidade, que fale em gestão também de qualidade na saúde pública, nas questões ambientais, enfim, uma nova agenda para o Brasil para os próximos 20 anos. O nosso diagnóstico final é de que ainda está em curso no Brasil agenda proposta pelo PSDB lá atrás, quando da primeira eleição do presidente Fernando Henrique, observou.
Segundo Aécio Neves, a pesquisa demonstrou que os brasileiros reconhecem que o país passou a avançar depois do controle da hiperinflação, que atingia, sobretudo, as famílias mais pobres. A estabilização econômica, conquista do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, é vista como marco inicial desse avanço.
Os brasileiros, 70% dos entrevistados, reconhecem que o Brasil começa a mudar para melhor a partir do governo do PSDB, a partir do Plano Real, da estabilidade econômica, da modernização da economia, com Fernando Henrique, da Lei de Responsabilidade Fiscal, e vem avançando de lá para cá, disse o senador.
Aécio Neves disse, ainda, que o PSDB vai iniciar a formulação dessa nova agenda para o país em um grande seminário, a ser realizado em outubro. Na oportunidade, o partido também irá iniciar o resgate de algumas de suas bandeiras.
“É hora de o PSDB voltar a ousar, voltar a pensar o Brasil pelos próximos 20 anos. E é isso que estaremos fazendo com um grande seminário que organizaremos no final do mês de outubro. O PSDB tem que voltar a ser, para a população brasileira, o partido dos valores éticos e morais, o partido da eficiência na gestão pública, e o partido da coragem e da ousadia para fazer as reformas que o PT, infelizmente, abdicou de fazer”, declarou Aécio.
Corrupção
Além de apurar as prioridades da população, a pesquisa feita pelo PSDB mostrou que o Partido dos Trabalhadores (PT) já é identificado com a corrupção e a ineficiência.
O partido buscou fazer um diagnóstico de quais são as reais necessidades da população, quais são as expectativas que ela tem em relação não apenas ao PSDB, mas ao quadro político brasileiro. Alguns temas chamaram muita atenção, algo que deve levar alguma preocupação ao PT, principalmente. Começa a haver uma avaliação de parte expressiva da população, todas essas denúncias de corrupção, de ineficiência administrativa, de aparelhamento da máquina pública, começam a chegar muito perto do Partido dos Trabalhadores, afirmou o senador.
Valor: “Não sou idiota para propor que o PSDB ignore o povão”, diz FHC
“Não sou idiota para propor que o PSDB ignore o povão”, diz FHC
Fonte: Cristiane Agostine – Valor Econômico
“Qual é o bobo que vai deixar de lado o povão nas eleições? Eu não sou um idiota”. Indignado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de 79 anos, diz que foi mal interpretado no artigo de sua autoria, divulgado pelo PSDB e amplamente criticado por correligionários. No texto, o presidente de honra do partido diz que se os tucanos persistirem em disputar com o PT a influência sobre os movimentos sociais ou o “povão”, o partido falará sozinho.
Em entrevista ao Valor, concedida na tarde de ontem por telefone, FHC afirma que na entressafra eleitoral o PSDB precisa construir um discurso e direcioná-lo para aqueles que ascenderam socialmente durante os anos do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para Fernando Henrique, o partido precisa manter uma expectativa de poder para continuar vivo. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Valor: O senhor defendia a aproximação do PSDB com as bases sociais, mas agora diz para o partido desistir do ‘povão’ e buscar a nova classe média. O que mudou?
Fernando Henrique Cardoso: Sempre tive a mesma posição. Agora tem de ver o que é novo, o que está emergindo. Acho que o PSDB tem de ser o porta-voz do novo. Tem que ter uma mensagem com estratégia de futuro do Brasil. O novo é que as pessoas estão mais voltadas a sua vida cotidiana. Então tem de ver como é que liga a preocupação da vida cotidiana com essa estratégia de futuro e com valores como a democracia, a luta contra a corrupção e contra o clientelismo. Tem que mostrar que há problemas de infraestrutura nas obras da Copa e dos aeroportos. Isso a população sente, percebe o que está faltando. Tem que mostrar que a questão do imposto não interessa só ao rico, mas a todos. Além disso a mensagem tem que vir de meios de comunicação novos, sem dispensar os tradicionais. É preciso usar internet, redes sociais. E não basta a oposição ficar no parlamento. Tem que ir para as ruas, se aproximar do povo. Agora boa parte do que o PT chama de povão, está mais cooptada pelo clientelismo. Mas isso não quer dizer que vou desprezar uma camada. Sou louco por acaso? Não ganhei duas vezes a eleição do Lula, no primeiro turno? Vou desprezar alguma parte? Não! Estou dizendo qual é a estratégia, como é que faz para sua mensagem se consolidar. Não falei de eleição, nem de voto. Na entressafra eleitoral devemos utilizar este momento para refazer nossa linguagem, para ver quais são as camadas mais sensíveis. Não estou tratando de eleição.Valor: O senhor quer dizer que na eleição tem de se aproximar de todos, mas na entressafra…
FHC: Não. Não só na eleição. Quais são as camadas que estão desconectadas e como o PSDB pode se conectar com elas? Não é questão de se aproximar. Claro que um partido tem que se aproximar com todo mundo do país. O que eu fiz no governo? As bolsas quem criou, não fomos nós? Na reforma agrária, quem deu o impulso não fomos nós? Não é essa a ideia, de ter um setor que se ocupa do povo e outro da elite. O que não pode é pensar que não houve uma mobilidade grande e que setores enormes das camadas populares, trabalhadores, é pensar que não estejam conectados pela internet também e que não estejam suscetíveis a uma mensagem que não a tradicional. E também que não sejam tão suscetíveis de ser cooptação por esse assistencialismo. Não se trata de se aproximar do povo só na eleição. Tem que ter uma concepção mais complexa do que é a sociedade. Fiquei muito assustado com a rapidez com que as pessoas interpretam e criticam [o artigo] antes de ler. Foi uma interpretação equivocada do que eu penso.Valor: Desistir dos movimentos sociais, do ‘povão’, não é uma orientação divergente à estratégia de o PSDB se aproximar do Nordeste?
FHC: Imagina se eu seria louco de achar isso. Não, não. Agora tem que ter marca. O Nordeste também está avançando e queremos que avance mais. Não temos que ser o partido da manutenção e da transição do atraso, através dos meios sociais que sejam. Temos que dar os meios sociais, a ajuda necessária, mas não pode se contentar com isso. Tem que se medir… “Qual é o progresso? Como é que eu avanço?”Valor: O senhor falou da nova classe média, como a classifica?
FHC: Sociologicamente não é classe média. Classe social não é classe de renda. Teve um aumento da renda de vários setores, mas isso não classifica automaticamente como uma mudança de classe, no sentido sociológico. Classe implica em um estilo de vida, de educação, redes sociais, conjunto de privilégios. Estamos usando, sociologicamente, de forma abusiva a ideia de uma nova classe média. Não é uma nova classe média. São novas categorias sociais. O mundo de hoje não é tão estabilizado como o do passado, que tinha o trabalhador, a classe média e os empresários, a burguesia. É um mundo muito mais fragmentado. Houve mobilidade, sim, melhorou a renda. Com o tempo, aí sim, vai estabelecer novas teias de relações sociais, participar de certos grupos de escola… Com o tempo vai ser, eventualmente, o que se chama de classe média.Valor: As demandas da nova classe média se assemelham às das classe D?
FHC: As demandas são diferentes. [A nova classe média] Vai querer mais informação, mais atendimento e mais qualidade dos serviços sociais. Nós conseguimos dar acesso geral à educação, mas todo mundo se queixa da educação no Brasil. Vai ser um momento difícil, da passagem da quantidade para a qualidade. No fundo é o momento de o Brasil passar de país em desenvolvimento para desenvolvido. O PSDB e as oposições têm que entender isso e ir para a vanguarda, como nós fizemos no passado, quando o PT era contra a estabilização da economia. O PT era contra o capital estrangeiro. O PT era contra que as leis do mercado tivessem vigência, era contra a globalização. Hoje acabou tudo isso. Ninguém mais é contra. Mas o PSDB foi a favor. De novo agora temos que dizer: isso está feito e o que mais? Vamos olhar o horizonte, avançar mais. Alguém vai fazer isso. Se não fizermos outros farão.Valor: E por que essa nova classe estaria mais suscetível ao discurso do PSDB do que a classe D?
FHC: O PSDB tem de ser capaz de ter um discurso que mexa com ela. É o que eu estou dizendo. Não tem um discurso definido. Vamos procurar um discurso, vamos ouvi-la.Valor: O que poderia motivar a aproximação? No artigo o senhor cita a questão moral…
FHC: Pode ser a questão moral. Mas pode ser a questão do atendimento, dos serviços com mais qualidade, mais segurança. Não tenho uma receita. É uma estratégia. É mudar o foco, para ver se chega lá. Se as pessoas discutissem isso seria mais útil do que discutir se vai deixar de lado o povão. Qual é o bobo que vai deixar de lado o povão nas eleições? Eu não sou um idiota. Todo o governo tem que olhar para a população, para os mais pobres também. Precisamos disputar o controle político dessa população. Não temos instrumentos para o assistencialismo, para transformar as bolsas em o instrumento de voto, cooptar os sindicatos…Valor: Em relação aos movimentos sociais, Alckmin e Aécio tentam se aproximar das centrais sindicais. O senhor discorda da estratégia?
FHC: Tem mesmo que se aproximar. Acho que deve ‘descooptar’. Mas os sindicatos do Brasil e no mundo todo não pegam mais a maioria dos trabalhadores. O índice de filiação é pequeno. Não sei se as demandas dos sindicatos são as dos trabalhadores ou são da burocracia sindical. Essa subiu na vida também e tem poder político. Mas será que arrastou consigo a massa operária? Duvido. O que não quer dizer que não devemos trabalhar com os sindicatos.Valor: E qual pode ser o ponto de intersecção entre os discursos do PSDB e o sindicalismo?
FHC: O PSDB deve lutar contra o corporativismo. E a garantia de sobrevivência sem a adesão dos trabalhadores não tem sentido. O imposto [sindical] é sobre todos os trabalhadores sem que eles digam se querem ou não. Não faz sentido.Valor: E os 100 dias da presidente Dilma, como o senhor analisa?
FHC: Esse negócio de 100 dias é outra dessas ficções. É muito cedo para avaliar o governo. Ela mudou um pouco o estilo: menos falante, muito mais cortês comigo. Não sei qual vai ser a política. Na Vale já houve uma interferência bastante forte. Na política externa houve modificações. Falar de direitos humanos é positivo, se distanciar daquela visão de que basta ser ditadura dita de esquerda para nós termos uma ligação é bom. Mas é como uma partida de xadrez, quem dá os lances iniciais é quem tem as pedras brancas. Na política, quando alguém ganha a eleição leva as pedras brancas. Não adianta nos precipitarmos antes de saber qual é o jogo deles. Não é o momento de eu sair criticando. Todos torcem para que o Brasil vá pra frente.Valor: Com o esvaziamento do DEM, como será o papel da oposição em relação ao governo?
FHC: Não sei como a oposição vai se desdobrar, porque depende do que o governo faça. Agora não dá pra tapar o sol com a peneira. Essa perda de substância do DEM não é boa, a menos que o novo partido se declare de oposição. Temos que ter uma mensagem que vá além do jogo dos partidos e do Congresso, que fale com o país. Para isso vai precisar de líderes que encarnem a nova mensagem. Tendo essa liderança, você se mantém na oposição e mantém o partido vivo. Mantém uma expectativa de poder. Enquanto o PSDB representar no imaginário das pessoas uma alternativa pro futuro, ele se mantém apesar das dificuldades do dia-a-dia da oposição.Valor: O PSDB então poderia já lançar uma pré-candidatura à Presidência?
FHC: É cedo para isso, mas tem que se preocupar com o pé no chão. O partido tem que se estruturar nas bases, oferecer bons candidatos a prefeito, olhar no mapa eleitoral e dizer ‘onde estamos fracos?’ Tem que recrutar bons candidatos, que tenham compromisso programático, compostura política. Candidatos que tenham capacidade de expressar o que a população está sentindo nos municípios. É um longo trabalho a ser feito, de formiguinha, não de quem vai ser candidato a presidente. O que o PSDB precisa agora é de coesão. O DEM está com um problema muito grave. Não temos fratura, temos que solidificar a coesão. Quem quiser trabalhar pela oposição no futuro tem que trabalhar já pela coesão no PSDB. E não ficar pensando em nome de uma eventual candidatura.Valor: Geraldo Alckmin lançou informalmente Serra à Prefeitura de São Paulo. O que o senhor acha?
FHC: Não sei se é a melhor opção pra ele. Se não combinar com o principal interessado, não tem jogo. Não sei qual é a opinião do Serra. Duvido que ele esteja, nesse momento, pensando nisso. Claro que, se for candidato, todo mundo vai ficar ao lado dele. Mas nesse momento nós todos devíamos estar pensando qual é o nosso papel, como é que você fala com a sociedade. Dizer que ‘é candidato, não é’, ‘rachou, não rachou’, isso cansou o povo. Isso não diz nada a ninguém. É preciso falar coisas que sejam sensíveis à população. Ontem, fiz uma palestra em Maringá (PR). Tinha 2,8 mil pessoas. Fiquei espantado. Jovens, mulheres, empresários, tudo misturado. O que eles querem saber? O futuro. Você junta aqui 100 pessoas para discutir, nesse momento, quem vai ser candidato? Não junta. Vamos partir do que a população está sentindo, não do que nós mesmos publicamos nos jornais. Um põe uma notinha aqui, outro lá, já sabe quem pôs, um fica envenenado contra o outro, não leva a nada.Link para assinantes: http://www.valoronline.com.br/impresso/politica/100/413097/nao-sou-idiota-para-propor-que-o-psdb-ignore-o-povao-diz-fhc
Caso Fiat e o Golpe contra Minas: ‘Lula desfere contra população mineira golpe que retira R$ 3 bilhões da economia’, protesta Rodrigo Castro
Golpe contra Minas
Fonte: Artigo – Rodrigo de Castro, Deputado federal pelo PSDB-MG – Estado de Minas
No apagar das luzes de seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desfere contra a população mineira um golpe que retira R$ 3 bilhões da economia do estado e, com isso, a capacidade de produzir, em seu território, mais 200 mil veículos e gerar 3,5 mil empregos diretos, frustrando a expectativa de novo ciclo de expansão da indústria periférica de componentes. A manobra, que culminou com a edição da Medida Provisória 512, deslocou para Pernambuco, estado onde nasceu o presidente, um dos mais promissores investimentos que naturalmente aqui se realizaria: a instalação de uma segunda fábrica do Grupo Fiat.
Para enquadrar-se nos benefícios da MP, a empresa teria que estar estabelecida naquela região, condição que veio a cumprir ao comprar uma empresa fabricante de chicotes elétricos, a TCA, sediada em Jaboatão dos Guararapes (PE). Mas, como fabricação de chicotes elétricos e fabricação de carros são coisas diferentes (uma está para outra assim como buzina está para motor), era necessário também que a MP estabelecesse a possibilidade de mudança, na empresa adquirida, dos seus objetivos institucionais ou alteração dos itens de sua produção. E isso foi inserido na MP, apesar da amplitude de espectro dessas mudanças.
Como se vê, tudo foi maquinado para redirecionar o investimento da Fiat. Pela nova lei, a empresa vai poder compensar parte do pagamento do PIS e Cofins com créditos de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Estar-se, portanto, diante de uma situação em que o governo federal, mediante utilização de recursos públicos, em vez de promover a integração entre os entes federados, patrocina, aberta e danosamente, a guerra fiscal entre eles. Nada contra Pernambuco, mas não há como deixar de condenar publicamente o patrocínio oficial da concorrência desenfreada pela captação de investimentos, agora capitaneada pela autoridade máxima do país.
A Fiat representa, para Minas, um dos mais importantes pilares de sua economia, pela geração de renda e de empregos que proporciona. Foi ela quem fez de Betim, onde está instalada a sua fábrica de carros, o município de maior arrecadação, do estado. E isso põe uma reflexão que traz, senão decepções, apreensões muito sérias: como é que um governo, com tantas razões contrárias a motivá-lo, chega a tomar uma decisão como essa. Primeiro Minas, com o esforço de gestão de sua equipe de governo e com a força de seu empresariado, tornou-se, depois de oito anos de muita luta, um dos estados da Federação que mais vêm contribuindo com resultados positivos para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e da balança comercial. Não há nenhuma razão lógica para qualquer tentativa de desestabilização dessa posição. Qualquer decisão que venha fragilizar a economia de um estado deve ser pesada e decidida depois de uma avaliação rigorosa e sensata de suas consequências, o que, neste caso, não ocorreu.
A decisão do presidente também põe em questionamento a fragilidade da posição dos seus correligionários em Minas, que certamente por ela serão afetados. Trata-se de lideranças do partido de quem se esperava e se exigia a defesa intransigente do estado ou do município que representam, e que nada fizeram por evitá-la. É o caso, por exemplo, da prefeita de Betim, onde se situa a fábrica da Fiat. É óbvio que ela não desconhece o tamanho da perda e, assim, ficamos sem saber se ela está mais interessada nos interesses de seu município ou se em ficar bem com o poder central. É obrigação dela protestar contra essa maquinação em desfavor de seus munícipes e contra o povo mineiro.
É hora de também se indagar onde está o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, indicado para ser ministro do novo governo e justamente nesta área, a do desenvolvimento. Apesar de se tornar a maior autoridade federal deste setor, por que ele simplesmente nada fez para evitar esse grave prejuízo para Minas Gerais? Considerando que na posição estratégica em que estará se constituiria em um canal natural das demandas de seu estado, há que se perguntar qual é a aposta que o povo mineiro pode fazer nele. Sinceramente, não dá para confiar. Outro ponto que aguça ainda mais a nossa desconfiança é o fato de que a presidente-sucessora, Dilma Rousseff, também nada fez para impedir essa manobra contra Minas, logo ela, que, na recente campanha, repetiu à exaustão o orgulho de ser mineira. Temos que fazer um esforço enorme para não nos deixar convencer de que, com representantes que se omitem, como esses, na hora de defender os interesses de seus liderados, não precisamos ter inimigos.
Entendo como extremamente injusta a decisão de Lula. Nada tem de errado um presidente influir no desenvolvimento do seu estado natal, desde que, com isso, não imponha perdas a outros estados e à Federação como um todo. Aliás, essa é a obrigação de um presidente. Não tenho nada contra Pernambuco, que goza de minha admiração e estima; não posso aceitar é uma discriminação e uma afronta ao meu estado. A erradicação das desigualdades regionais se faz com a geração criativa de negócios para o país, e não via desestruturação das economias de um estado que, com grande esforço de gestão, espírito de parceria e muito trabalho de seus empreendedores, vêm conseguindo gerar divisas e posições positivas para o PIB e balança de pagamentos.
Serra diz que em Minas está o maior esforço concentrado em favor da sua campanha
Serra diz ter maior apoio em Minas
Fonte: Estado de Minas
Presidenciável do PSDB diz que seus aliados no estado são os que mais se empenham em sua campanha à Presidência e minimiza ausência de seu material entre demais candidatos tucanos
O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, afirmou ontem que Minas Gerais é o estado que mais se empenha na sua campanha ao Palácio do Planalto. Ele esteve em Belo Horizonte, Patos de Minas (Alto Paranaíba) e Ituiutaba (Triângulo Mineiro). Em rápida passagem pela capital, ele concedeu entrevista à Rede Bandeirantes acusando o governo federal de lotear cargos na área de infraestrutura de estradas.
De BH, o tucano seguiu para Patos de Minas, um dos principais polos agrícolas do estado, ao lado do governador Antonio Augusto Anastasia (PSDB), que disputa a reeleição, e do ex-governador Aécio Neves (PSDB), candidato ao Senado. O presidenciável rebateu as críticas de que seu material de campanha esteja sendo excluído nos estados. “Quero dizer que a nossa campanha aqui em Minas tem tido um empenho, como em nenhum outro lugar, dos nossos dois principais líderes”, disse, se referindo a Aécio e Anastasia, a quem chamou de “queridíssimo” e “amicíssimo”, respectivamente. O candidato pediu votos para Itamar Franco (PPS), que também concorre ao Senado na chapa encabeçada por Anastasia. “É um homem que honrou Minas na Presidência do Brasil”, afirmou.
A preocupação de Serra em dissipar dúvidas sobre o envolvimento de correligionários na campanha do PSDB à Presidência tinha fundamento em Patos de Minas. Nas paredes do auditório escolhido para os discursos dos candidatos, a maioria esmagadora do material de campanha apresentava fotos de Anastasia, Aécio e Itamar. Em apenas um, Serra aparecia ao lado dos três. Por outro lado, eram muitos os cartazes com o candidato à Presidência sozinho.
Material de campanha também foi colocado na fachada da casa da prefeita Maria Beatriz de Castro Savassi (DEM). Mas os de Serra foram acrescentados na última hora, praticamente no mesmo instante em que os candidatos passavam em frente à casa. No aeroporto, na chegada dos candidatos, que viajaram juntos, ninguém tinha foto de Serra nos botons nas camisas, mas todos ostentavam figuras de Anastasia, Aécio e Itamar.
Mais cedo, na entrevista na televisão, em BH, o tucano foi questionado sobre a exclusão de seu material de campanha entre aliados. “Você acha grave isso? Eu não acho, isso se corrige com enorme facilidade, não tem importância nenhuma. O material da minha campanha ainda nem ficou pronto”, afirmou.
ESPINHOS – Em Patos, Serra se negou a tratar de temas espinhosos em Patos de Minas. Disse que não poderia comentar o fato de ter recebido a quarta multa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por propaganda eleitoral extemporânea. “Sinceramente, não posso dizer nada. Não tenho conhecimento. Fiquei sabendo pela imprensa”, disse. A penalidade, de R$ 10 mil, foi aplicada pela veiculação de inserções partidárias divulgadas em 16 e 21 de junho. Segundo o TSE, foram usadas imagens para promover o candidato. Com a decisão do tribunal, o valor devido por Serra à Justiça sobe para R$ 25 mil.
“A eleição vai ser disputada, mas vamos ganhar, porque estamos do lado daqueles e daquelas que têm propostas para o Brasil”, afirmou o tucano em discurso para lideranças regionais. O candidato disse que nas articulações políticas na região foi possível unir “UDN” e “PSD”, partidos que entraram para a história da política brasileira pela rivalidade entre si. Na região de Patos de Minas, o ex-senador Arlindo Porto, que pertencia ao PSD, e o suplente de Aécio Neves, deputado estadual Elmiro Nascimento, que era da UDN, ontem estavam no mesmo palanque, ao lado dos tucanos.
De Patos, Serra foi para Ituiutaba, quase no pontal do Triângulo, onde voltou a criticar a falta de investimentos em infraestrutura: “Temos problemas em várias áreas, e como em Minas as coisas são bem feitas, temos muita esperança nesta união que vai ajudar o Brasil e todos os mineiros e mineiras”. O candidato disse também que o setor agrícola foi o que mais contribuiu para a estabilização da economia. Depois de caminhada no Centro de Ituiutaba, ele destacou que, nos últimos 30 anos, os preços da cesta básica cresceram em média 5% menos que os outros produtos. “É o setor que segura a inflação e que está aguentando o setor externo da economia brasileira”, afirmou.
Marcus Pestana: artigo diz que falta virtude ao Governo Dilma
Marcus Pestana: artigo revela que no “presidencialismo de cooptação” a governabilidade é assegurada pelo “dando que se recebe”.
Política, economia e o Brasil em 2012
A sorte está virando e a virtude, faltando
Artigo – Marcus Pestana – Deputado federal (PSDB-MG)
Sempre foi questão central na ciência política a demarcação do grau de liberdade subjetiva que líderes, partidos e sociedade têm em relação às condições objetivas ditadas pela economia. Até que ponto carisma, astúcia, habilidade, sensibilidade, capacidade de liderar podem contraditar os sentimentos populares que brotam dos resultados concretos gerados pela economia no cotidiano da população? É evidente que a movimentação política dos principais atores em cena não é escrava absoluta dos indicadores econômicos. Há espaço para a ação criativa e o exercício das virtudes. Senão, a política seria uma tradução pobre e mecânica dos movimentos da economia. Mas é também verdade que a economia determina, em última instância, os humores da população, a popularidade dos governos e, portanto, o ambiente para a governabilidade.
Lula, inegavelmente, possuía poderoso carisma, mas seus índices de popularidade estavam ligados ao desempenho da economia, fruto das bases erguidas pelo Plano Real, do excepcional momento vivido pela economia mundial e do aumento da renda interna. Socialistas, sociais-democratas, conservadores, liberais foram varridos do poder pela violenta crise europeia, independentemente do carisma ou da qualidade dos líderes de plantão.
A economia brasileira parece viver novo momento. Enquanto os PIBs de China e Índia em 2011 cresceram, respectivamente, 9,2% e 6,9%, tivemos um desempenho pífio refletido no índice de 2,7%. Um dos piores desempenhos de toda a América Latina. A inflação bateu na trave do limite superior do sistema de meta inflacionária: 6,5%. Isso reflete nossa situação contraditória. Por um lado, os inegáveis avanços obtidos pelos governos FHC e Lula, na estabilização da economia brasileira, no combate à pobreza e na nova inserção do país no mundo globalizado. Por outro, a maior taxa real de juros sobre a face da Terra, custo Brasil nas alturas, taxa de investimento raquítica, câmbio sobrevalorizado, desindustrialização clara.
Todos sabem que a presidente Dilma não se notabiliza pela habilidade, carisma e experiência política. Registra altos índices de popularidade porque, além de ser uma pessoa séria e honesta, os níveis de consumo e renda continuaram em alta em 2011. A queda de ministros denunciados por corrupção foi transformada em suposta faxina na herança recebida.
No “presidencialismo de cooptação” em vigor, em que a governabilidade é assegurada pelo “dando que se recebe” envolvendo cargos e verbas orçamentárias, a base de sustentação de Dilma tem revelado insatisfações graves. No PMDB, 53 deputados federais assinaram manifesto com duras críticas ao governo e ao PT. No Senado, a indicação para a direção-geral da ANTT de Bernardo Figueiredo, pessoa diretamente ligada a Dilma, foi negada.
Maquiavel dizia que o príncipe deveria ter, para um bom governo, sorte e virtude. No governo Dilma, parece que a sorte está virando e a virtude, faltando.
Fonte: O Tempo
Link: http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdNoticia=198639,OTE&IdCanal=2
Roberto Freire: Foram as privatizações do governo FHC que possibilitaram elevar o nível de investimento no país
Fonte: Roberto Freire, presidente PPS – Brasil Econômico
Privatização envergonhada
No processo de estabilização do real, quando o governo Fernando Henrique Cardoso empreendeu um profundo movimento de privatização de algumas empresas estatais, processo coberto de êxito pelo sopro de modernização que permitiu à indústria brasileira, diminuindo o peso do Estado na economia do país, o PT fez dessas privatizações seu cavalo de batalha, denunciando o governo do PSDB, até recentemente, de “vender as riquezas do país para as multinacionais”, em sua forma peculiar de fazer oposição.
Foram justamente as privatizações do governo FHC que possibilitaram elevar o nível de investimento nesses setores e, ao mesmo tempo, iniciar uma ampla reforma do Estado, com a criação de agências reguladoras, mudando o caráter do Estado brasileiro, de gestor para regulador.
Essa oxigenação da economia por meio das privatizações não apenas quebrou monopólios estatais, como dinamizou algumas empresas estatais, como a Petrobras, que posteriormente ganharam não apenas eficiência, como se tornaram indutoras de modernização tecnológica e desenvolvimento industrial, vide o pré-sal.
Paulatinamente o governo Dilma assume, cada vez mais com maior clareza, as diretrizes econômicas do governo FHC
Contra tudo isso, o lulo-petismo fez uma verdadeira cruzada, transformando uma necessidade econômica, em um discurso político-ideológico de “defesa do Estado gestor”, paternalista em sua essência, e patrimonialista por consequência de nossa cultura política. Enquanto estava na oposição, foi um combatente contra as “privatizações”, como se fossem crime de lesa-pátria!
Agora, quando a crise financeira internacional bate à porta e o Estado sem recurso para investir e modernizar a economia vê-se sob a necessidade de privatizar setores da economia, mormente de sua infraestrutura, o governo do PT rasga suas moribundas crenças e faz suas primeiras privatizações, revelando, mais uma vez, o oportunismo de sempre, fazendo uma privatização envergonhada, mantendo ainda a forte presença do Estado, e utilizando os recursos do BNDES como instrumento de capitalização de conglomerados nacionais e internacionais. Como ocorreu com a privatização dos aeroportos de Brasília, Congonhas e Viracopos.
Um problema, contudo, tem chamado a atenção dos especialistas. Como houve um ágio muito grande, desconfia-se da capacidade dos consórcios ganhadores de efetivamente entregarem o prometido. A empresa de infraestrutura dos fundos de pensão Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa) e Petros (Petrobras), a Invepar, associada à construtora OAS, por exemplo, terá de pagar R$ 800 milhões por ano a título de outorga, mais 10% da receita bruta do terminal.
De todo modo, o fundamental é que paulatinamente o governo Dilma assume, cada vez mais com maior clareza, as diretrizes econômicas do governo FHC, mesmo que de forma transversa, e rompe o discurso ideológico que o lulo-petismo alimentou, quando na oposição, reconhecendo que a privatização da economia é fruto da necessidade, e uma solução óbvia para que o Estado possa cumprir sua função de garantir educação de qualidade, uma saúde pública eficiente e uma efetiva segurança a seus cidadãos, abandonando de vez jargões e o voluntarismo salvacionista tão peculiar do populismo.
Reinaldo Azevedo: Itamar era controverso, mas não ambíguo moralmente
Itamar era controverso, mas não ambiguo moralmente
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo
Itamar era controverso, mas não ambíguo moralmente. Morre um político pobre, e isso é mesmo uma notícia um tanto espantosa. Ou: Uma estranha forma de a “Virtù” se casar à “Fortuna”.
Morre Itamar Franco, aos 81 anos. Era um político controverso, polêmico, mas não moralmente ambíguo. Morreu pobre, por exemplo, com um patrimônio compatível com a sua trajetória de homem público. E isso, convenham, é tão raro nestepaiz que já merece ser aplaudido, especialmente no tempo em que petistas, que se apresentam como monopolistas da ética – e assim se colocaram também contra Itamar -, ficam milionários da noite para o dia fazendo “consultoria”. Itamar tem uma boa folha de serviços prestados ao país. Sem querer usar a contradição como muleta dialética, pode-se afirmar que sua maior besteira acabou resultando no maior bem que fez ao país; que seu maior defeito acabou sendo a sua grande qualidade. Vamos ver.
Que besteira foi essa? Itamar pertencia àquele grupo que viria a ser conhecido como os “autênticos do MDB”, eleito na leva de senadores de 1974, a primeira derrota da ditadura nas urnas. Integra mais tarde o PMDB e ali permanece até 1986, quando deixa o partido, tangido pelos “patriotas” de Newton Cardoso, o “Newtão” – que não morre pobre nem que comece a queimar dinheiro amanhã. Migra para o PL e se torna, então, um político bem maior do que o seu partido. E é nessa condição que faz a tal besteira que virou tábua de salvação: aceita ser o vice na chapa de um certo rapaz chamado Fernando Collor de Mello. Itamar migra para o PRN – Partido da Reconstrução Nacional -, a legenda inventada pelo “caçador de marajás” e é eleito vice-presidente da República.
Collor queria alguém que lhe conferisse alguma credibilidade no meio político. Itamar era a figura mais próxima do establishment a lhe dar ouvidos. Já durante a campanha ficou claro que era um peixe fora d’água naquele grupo que ficou conhecido como “República de Alagoas”. Eleita a dupla, o vice ficou encostado e dava sinais evidentes de desconforto com o “estilo” e as escolhas do titular. Nunca foi ouvido, consultado ou auscultado. Era ignorado pelo fortão que tinha “aquilo roxo” e aquilo outro menos cinzento do que se imaginava.
A crise que resultou na renúncia de Fernando Collor, diante de um impeachment certo, conferiu grandeza à biografia de Itamar Franco. Deu-se conta da gravidade do momento, percebeu que só conseguiria governar propondo uma espécie de pacto entre os partidos e, a despeito de seu dito “temperamento mercurial”, não se entregou a arroubos cesaristas.
Atenção, leitor! Neste ponto, deixo o “fio Itamar Franco” para pegar um outro: o “fio PT”. Depois, junto os dois. Destaco um momento notável de má fé do partido, que, por caminhos inesperados, também faria um grande bem ao país.
PT na oposição
O PT, junto com quase toda a nação, participou ativamente do “Fora Collor”. A mobilização dos chamados “movimentos sociais” ficou por conta da legenda, então principal alvo de Collor, que a acusava de tentar disputar o “terceiro turno” das eleições – acusação que os petistas fazem hoje a seus adversários; não por acaso, Lula e Collor são agora aliados.O PT, que ajudou a derrubar o governo, recusou-se a participar da base de apoio a Itamar Franco – e olhem que era aquele um momento de certa tensão até institucional. O primeiro presidente eleito diretamente depois do ciclo militar era também o primeiro a testar um país pós-impeachment, que só não se deu legalmente porque ele renunciou primeiro. O petismo ajudara a desestabilizar Collor por bons motivos e decidiu que tentaria desestabilizar também seu sucessor, aí por maus motivos. O motivo dos petistas era e é um só: jamais dar apoio a uma Presidência que não seja comandada pelo partido. Foram para a oposição o PT e o PFL – este partido, justiça seja feita, não havia colaborado para a queda de Collor ao menos; foi coerente no seu erro.
Petistas demonstravam, em suma, a sua notável habilidade para sabotar governos e a disposição de faltar ao país mesmo num momento de crise aguda porque preocupados apenas com seu projeto de poder. Luíza Erundina foi punida pela legenda por ter aceitado o cargo de ministra da Administração de Itamar. Decidiu deixar a legenda. Para todos os efeitos, os petistas não aceitavam “alianças com partidos burgueses” – Lula recusara o apoio de Ulysses Guimarães no segundo turno de 1989, naquele que foi, talvez, o ato mais indigno de sua história. De verdade, o partido estava de olho em pesquisas que indicavam que o Babalorixá de Banânia era o favorito à sucessão de Itamar. Assim, diante da possibilidade de chegar ao poder, por que se comprometer com a governabilidade do país, não é mesmo?
Juntando as pontas
Então junto agora este fio com aquele outro que larguei lá atrás. As circunstâncias da posse de Itamar Franco, que dependia do núcleo de estabilidade e credibilidade que passou a lhe fornecer o PSDB, e o fato de o PT, por maus motivos, ter decidido ficar fora do governo permitiram que Fernando Henrique Cardoso, ministro da Fazenda, juntasse a inteligência econômica necessária para elaborar e aplicar o mais ousado e bem-sucedido plano de estabilização da economia jamais havido no Brasil. Em muitos aspectos, dizem alguns especialistas em que confio, único na história. Durante um bom tempo, o Brasil passou a funcionar com duas moedas. Não faltou quem antevisse o desastre. O Brasil começava a se reinserir na ordem econômica mundial. Sim, o plano foi coordenado e liderado por FHC; sim, ele foi aplicado no governo Itamar Franco. O presidente era fraco o bastante para depender do PSDB e da massa crítica que fez o Real; ele era forte o bastante para bancar o risco – e foi preciso alguma coragem política.O PT, claro!, ficou na oposição e tentou sabotar o plano de estabilidade – e todas as outras iniciativas que se seguiram, já no governo FHC, para estabilizar a economia. Lula e seus bravos, especialmente Aloizio Mercadante, anteviam um desastre de proporções monumentais. Lembro, à margem, que foi no governo Itamar que seu deu a privatização da CSN. Ali o petismo dava início à sua sanha vigarista “contra a venda do patrimônio nacional”, que se estenderia pelos anos seguintes. Retomo.
Eleito FHC, com o apoio de Itamar, o já ex-presidente deu mostras de que não havia entendido exatamente o alcance do plano que fora efetivamente implementado em seu governo e que demandava um conjunto de medidas para se consolidar – ele decidiu se opor a elas. Passou a falar como um político mais ou menos de oposição. Há quem queira que pretendia se candidatar à sucessão de FHC, eventual intenção frustrada com a aprovação da emenda da reeleição. Em 2002, Itamar apoiou a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva.
Eleito governador de Minas em 1998, ainda na linha do confronto com FHC, que conseguiu seu segundo mandato das urnas, Itamar decretou uma polêmica moratória em Minas, que ajudou um tanto a bagunçar as contas públicas. As relações com o tucano nunca voltaram a ser, digamos, normais, embora tenham recuperado a polidez. Itamar sempre considerou que haviam lhe roubado a paternidade do Plano Real, o que não é, definitivamente, fato. Acima, explico as circunstâncias em que o plano se deu. Sua grandeza, reitero, foi ter tido a coragem de dar sustentação política a uma ousadia cuja extensão, ele próprio revelou depois, desconhecia.
Eleito para o Senado pelo PPS no ano passado, Itamar prenunciava uma atuação firme, em defesa de boas causas, combatendo o cesarismo inescrupuloso do PT. Infelizmente, a trajetória foi interrompida. Morre, reitero, um político cuja vida é compatível com seus rendimentos, que fez um breve governo, sim, mas honrado. Henrique Hargreaves, seu chefe da Casa Civil e seu assessor até hoje, viu seu nome envolvido numa acusação de tráfico de influência. Itamar tomou uma decisão rara – na verdade, até hoje, única: afastou imediatamente o auxiliar para que a investigação fosse feita com lisura. Provada a inocência do ministro, ele voltou. Para quem vê o PT afagar culpados, estranha um presidente que afastou mesmo um inocente, sobre quem, no entanto, pesavam algumas suspeitas.
Também entrou para a história um episódio envolvendo o então senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), um dos políticos que mais o fustigavam. ACM dizia ter um calhamaço de evidências de que havia corrupção no governo. O presidente marcou uma audiência com o político baiano, que prometeu levar uma pasta recheada de documentos. Itamar, então, fez algo inesperado: chamou a imprensa e convidou o senador a apresentar as suas provas também aos jornalistas. Eram só recortes antigos de jornal.
Encerro
Queria Maquiavel que o feito notável de um príncipe requer que a “Virtù”, o conjunto das qualidades pessoais do governante, possam se casar com a “Fortuna”, um conjunto de fatores que caracterizam uma época, de que todos fazemos parte, mas que estão fora do nosso alcance; não dependem da nossa vontade. No caso de Itamar, isso se deu de um modo estranho: o dado mais notável de sua “Virtù” era justamente a sua fraqueza ao assumir o governo, o que o fez depender da boa-vontade de estranhos. As circunstâncias pediam um ato radical em favor da estabilidade da moeda, o que só poderia ser feito se o PT estivesse fora da aliança que sustentava Itamar – e o PT estava fora.Olhem que formidável! A fraqueza de um e o mau-caratismo de outro permitiram que o Brasil saísse do buraco. Morre Itamar, um homem que fez bem ao Brasil. De quantos da estirpe dos políticos se pode e se poderá dizer o mesmo? Que Deus o acolha em sua infinita bondade!
Aécio Neves presta homenagem ao 80 anos de Fernando Henrique Cardoso e lembra trajetória do ex-presidente
Aécio Neves: Os 80 anos de Fernando Henrique Cardoso
Nas comemorações dos 80 anos do ex-presidente, nesta quinta-feira em Brasília, senador afirma que seu legado começa a ser reconhecido.
Homenagem a FHC é resgate da verdade, diz Aécio Neves
Fonte: Assessoria de Imprensa do senador Aécio Neves
Nas comemorações dos 80 anos do ex-presidente, nesta quinta-feira em Brasília, senador afirma que seu legado começa a ser reconhecido
O resgate da verdade sobre um tempo. Foi assim que o senador Aécio Neves definiu as homenagens que vêm sendo prestadas ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso por seus 80 anos de vida. Nessa quinta-feira (30-06-11), a homenagem ocorreu no auditório Petrônio Portela, no Senado Federal. Impedido de comparecer à cerimônia por determinação médica, o senador Aécio Neves fez questão de enviar um vídeo para saudar o ex-presidente, de quem exaltou as faces de estadista, intelectual e amigo.
“Vejo com enorme alegria, e tenho certeza de que inúmeros outros brasileiros também, que começa a haver, não apenas de seus aliados, mas de grande parte dos brasileiros, o reconhecimento em relação à relevância do seu papel na construção desse Brasil que estamos vivendo hoje. Não se trata mais de homenagear o homem e a sua obra, o que estamos fazendo é resgatando a verdade sobre um tempo. Amigo Fernando Henrique, a sua coragem, a sua lucidez e o seu caráter foram fundamentais para que chegássemos até aqui. E o que eu posso pedir é que Deus lhe dê saúde e força para fazermos a nova travessia, a travessia para um Brasil onde ética e política não sejam incompatíveis, mas, ao contrário, sejam necessariamente complementares”, afirmou o senador no vídeo exibido durante o evento.
Aécio Neves disse considerar Fernando Henrique Cardoso um ser plural que reúne, em sua personalidade única, várias características marcantes. Para o ex-governador de Minas Gerais, as mais significativas são a do estadista, do intelectual e do amigo.
Estadista brasileiro
Na avaliação do senador Aécio Neves, Fernando Henrique teve a capacidade de, durante sua trajetória política, tanto como ex-ministro da Fazenda e parceiro de Itamar Franco como em seu próprio governo, apontar caminhos para o futuro.
“Fernando Henrique foi capaz de ousar, capaz de, quando teve a oportunidade, transformar as estruturas desse país. Se hoje vivemos num país melhor, e vivemos, é porque você teve a capacidade, lá atrás, de definir o caminho e nos fazer trafegar por ele, às vezes em parceria com o grande presidente Itamar Franco, no processo de estabilização da moeda, mas em todos os outros momentos pensando grande, pensando não o Brasil do dia a dia, mas o Brasil das próximas décadas”, salientou o senador.
Aécio Neves ressaltou ainda o reconhecimento nacional e internacional que o ex-presidente tem como intelectual contemporâneo.
“Fernando Henrique é um grande pensador, vanguardista, intelectual sempre à frente de seu tempo, capaz de trazer para o centro das discussões da sociedade em que vivemos, temas áridos, temas que teimavam em continuar na periferia das discussões”, afirmou o senador, lembrando ainda a faceta humana do ex-presidente, para ele um amigo, sedutor, que sempre fala com competência e memória privilegiada sobre temas que interessam a todos.
Homenagem de parlamentares e amigos
Atual presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, recebeu homenagens de senadores, deputados, governadores, ministros, e de lideranças do PSDB e de vários partidos que destacaram sua trajetória política. Durante a cerimônia, foram exibidos filmes com fotos sobre vários momentos da vida pessoal e política do ex-presidente, além dos principais fatos que marcaram a sua gestão, como o Plano Real, a estabilização da economia brasileira e as reformas que levaram à modernização do país.
O presidente do PSDB, deputado federal Sérgio Guerra, abriu a cerimônia e destacou a importância da homenagem. Em um dos momentos mais emocionantes, a atriz Fernanda Montenegro apresentou vídeo que destacava a dedicação do ex-presidente à política brasileira.
Várias lideranças políticas do PSDB e de vários partidos discursaram em homenagem a FHC, como o presidente do Instituto Teotônio Vilela, Tasso Jereissati; o governador de Alagoas, Teotônio Vilela; o ex-governador José Serra; o ministro Nelson Jobim e o presidente da Câmara dos Deputados, Marcos Maia. Emocionado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso encerrou a cerimônia agradecendo a homenagem.
FHC faz 80 anos engajado nas causas do mundo, faz um balanço do pais – “Lula é mesquinho ao renegar o que houve antes”, disse
‘Em oito décadas, o Brasil melhorou muito’
Fonte: Helena Celestino, Luiz Antônio Novaes, Silvia Amorim e Silvia Fonseca – O Globo
Ao completar 80 anos, o ex-presidente e sociólogo, hoje engajado em causas pelo mundo, faz um balanço do país
ENTREVISTA
Fernando Henrique CardosoAo completar 80 anos, o ex-presidente e sociólogo, hoje engajado em causas pelo mundo, faz um balanço do país “Arrependimento? Se for ficar na política, acho que poderia ter sido mais suave, teria me desgastado menos e conseguido mais”. A crítica de Fernando Henrique Cardoso ao seu jeito presidente de ser combina com o bom humor e a língua afiada que mantém até hoje ao chegar aos 80 anos de idade. Completamente adaptado à vida da planície depois dos oito anos no Palácio do Planalto, o ex-presidente está de bem com a vida. É generoso ao falar de aliados e opositores -, mesmo se ainda se ressente de como foi tratado por Lula – mas não perde a oportunidade de rir dele mesmo e dos personagens do mundinho político brasileiro. Distante do dia a dia partidário, criou uma rotina prazerosa, povoada por viagens, livros, amigos e filhos. Mora sozinho num amplo apartamento em Higienópolis – o bairro paulistano que ajudou a tornar conhecido como reduto dos tucanos – e é com gosto que passa as manhãs em casa, escrevendo dois novos livros – um de reflexões sobre o mundo contemporâneo e outro revisitando a obra dos pioneiros do pensamento sociológico e político brasileiro, como Joaquim Nabuco, Gilberto Freire e Florestan Fernandes.
– Nunca consegui trabalhar fora de casa – conta, revelando o vício do intelectual que detesta escrever de terno e gravata. – Já escrevi de pijama e até de calção, mas no Alvorada não dava para pisar naqueles tapetes de pé molhado – brinca.
O estilo sociólogo chique predomina na decoração do apartamento. É refinado, mas despojado e com marcas de uso. Pelas paredes e estantes, objetos de arte e quadros, muitos deles recebidos de presente na época de presidente. À vista, livros de arte, álbuns com fotos ao lado de Ho-Chi-Min numa viagem ao Vietnã, um tucano enquadrado e uma bússola pintada a óleo perto de uma grande mesa de madeira na sala de jantar. Em lugar de destaque, dois Mirós, uma foto de Dona Ruth e, na parede ao lado, uma imagem da casa onde nasceu, agora quase toda tomada pelas raízes de uma árvore, na Rua Bambina, em Botafogo, no Rio. Tem dois escritórios em casa, mas só guarda nas estantes uns 500 livros. A maior parte de sua biblioteca de 20 mil volumes está no Instituto Fernando Henrique, onde à tarde trabalha.
– Agora, quando eu quero um livro, tenho de pedir à bibliotecária. Fica um vai e vem… Quando estou escrevendo, vou procurar o texto que quero, o livro não está… Mas, na vida atual, morando em vários países, não dá para ter grandes bibliotecas em casa, desapeguei desde que a polícia (na ditadura) levou meus livros lá da casa do meu pai – diz, contando que agora viaja só com um iPad. Em sua nova rotina doméstica, mais de oito anos depois, ele não desdenha, mas não sente saudades da vida nos palácios de Brasília, onde não conseguia abrir uma porta e nadava observado por seguranças.
– Palácio é lugar de intriga. Se tiver imaginação, você acha que é rei. Mas, se tiver senso de realidade, percebe que mora mesmo é numa repartição pública – diz com humor.
Uma repartição pública com perigosas armadilhas, como a dos documentos oficiais protegidos por sigilo eterno que deixou para seus sucessores. Assinado no último dia do seu mandato, em 31 de dezembro de 2001, o projeto chegou à sua mesa numa pilha de papéis. – Não recebi pressão nem do Itamaraty, nem dos militares. Mas alguém botou isso lá, sem ter passado pela Casa Civil.
Hoje, vai festejar o aniversário só com a família, mas o festival de comemorações promete durar. Amanhã, a Osesp fará um concerto em sua homenagem. Semana passada, jantou na Sala São Paulo com 500 amigos, daqueles cultivados pela vida, nenhum deles encontrado na lista de Facebook. Em agosto, pretende fazer uma festa no Rio, mas a agenda por agora está cheia.
O GLOBO: Nesses 80 anos de vida, em que momentos ou em que papéis o senhor se sentiu mais confortável?
FERNANDO HENRIQUE: Para ser franco, eu me sinto à vontade em muito papéis. Eu não desgostei do exercício da Presidência. Nunca me queixei de doença, cansaço, embora às vezes estivesse cansado. Eu não achava mau, assim como me adaptei imediatamente a outro estilo de vida (ao deixar a Presidência). Fui dar aula de novo. Aula é um modo de dizer porque em Brown (Uni – versity), onde eu era professor-at-large, mas recebia alunos, dava seminários. Eu me adaptei.
Depois, passei a ter funções em organizações internacionais, fui presidente do Clube de Madrid. Hoje participo do grupo do (Nelson) Mandela, que é muito ativo, negociações pelo mundo afora, uma porção de coisas. E participo de vários conselhos e fundações…Mas no Palácio era possível conciliar os papéis de presidente e intelectual?
FH: Com dificuldade. Nunca deixei de ter um certo olhar distante, que é o do intelectual, o que é uma desvantagem na vida política.Por que é desvantagem?
FH: Porque você se refreia, tem um olhar crítico, então não faz uma porção de coisas que os políticos têm que fazer. Você tem mais autocrítica, mais freios. Mas isso tem uma vantagem, que me ajudou muito, que foi não entrar no olho do furacão. Quando, por exemplo, atacam muito pela imprensa, ou a própria imprensa ou os políticos, percebo que estão atacando um personagem, não eu como pessoa. Sei me distanciar.Como presidente, qual a principal lição que o senhor tirou para o pensamento do sociólogo para a sua percepção da realidade brasileira?
FH:Você fica com uma visão muito mais rica e vê que as coisas são muito mais difíceis e complicadas. Os interesses são muito mais emaranhados, é muito mais difícil obter uma convergência para alguma coisa, e você não tem soluções simplistas para os grandes problemas. Se tivesse, estariam resolvidos. Você passa a ser mais tolerante, não no sentido de permissivo, mas entende mais o outro. Vê como são as pessoas. Acho que, em parte, a liderança presidencial tem de ser intuitiva, veja o Lula, mas, quando você tem um pouco mais de capacidade de análise, fica vendo por que as pessoas estão fazendo isso ou aquilo. Ao mesmo tempo que desculpa umas, condena outras.Mas isso faz ficar mais pessimista ou otimista a respeito do mundo?
FH: Mais realista. Não digo pessimista porque dá para avançar. Meus colegas acadêmicos purosangue sempre ficavam um pouco horrorizados de ver como é que eu lidava com o que, para eles, é uma gente despreparada. Eu dizia que eles não eram preparados para umas coisas, mas muito bem preparados para o que eles fazem. E eu já tinha a experiência do Senado. Minha transformação de papéis foi aos poucos, porque fui senador por muito tempo. É verdade que era diferente; quando fui para o Senado, no tempo do governo Figueiredo, o poder do Congresso era pequeno, e a pressão sobre ele era menor. Mas depois veio a fase da Constituinte, que foi uma grande escola. Foi um momento muito rico da nossa História, e nunca estudado. Fui um dos relatores das regras para fazer a Constituição, eu e (Nelson) Jobim. Abrimos espaço para emendas populares, a quantidade de pessoas que se manifestou foi brutal. Então, você vê um país sonhando, às vezes delirando, às vezes com pesadelo… Fui forçado a participar dos processos de negociação. Era muito interessante o que estava acontecendo. E aí você vê como é intrincado mexer numa sociedade como a brasileira.Qual a mais forte ilusão de sociólogo que a Presidência destruiu? O senhor entendia menos como agiam os políticos ou os empresários, o mercado?
FH: Os políticos eu entendia, mas a inexperiência maior era com o mercado. Não era fácil entender como funcionava o mercado financeiro. Naquela época, eram crises sobre crises. Muitas vezes a situação objetiva não era tão ruim, e a bolsa caía… Nunca houve pressão no sentido de que alguém vem aqui para pressionar. Isso não existe. Mas especulação (financeira)…E as divergências dentro do governo?
FH: Também havia, mas você tem que mediar essas divergências e, quando necessário, tomar partido.Foi um dos momentos mais difíceis do seu governo (a crise cambial de 99)?
FH: Sem dúvida. Foi a mais difícil de todas. Mas veja como há pouca compreensão de como é o processo real. A uma certa altura, o Köhler (Horst), que era o diretor-geral do FMI, veio ao Brasil, eu estava no Rio, e nos encontramos no BNDES. Saiu na imprensa que ele veio aqui para me dar instruções. Na realidade, ele veio aqui para me agradecer, porque para a eleição dele – o Schröder (Gerhard), que era o chanceler da Alemanha, tinha me pedido para apoiar o Caio Koch-Weser, um brasileiro, e eu concordei. Acontece que o Caio não foi aceito pelos americanos. Então, o Schröder me ligou de novo e pediu para eu ajudar com uns votinhos na América Latina para o Köhler. Havia um outro que era muito bom, o Stanley Fischer, que tinha ajudado no Plano Real, deu uns palpites. Mas, enfim, Köhler veio para agradecer, não havia pressão do FMI. Não é assim que as coisas acontecem. Mas o mais difícil, pessoalmente, vou dizer: é demitir um ministro que é seu amigo e que não fez nada de errado, mas a situação o obriga.O senhor se refere a.. .
FH: Ao Clóvis Carvalho e ao Celso Lafer. É difícil.O senhor acha que a presidente Dilma já conheceu esse lado amargo logo de início?
FH: Sim, não sei se na mesma proporção que eu, porque o Clóvis e o Celso eram meus amigos. Eles são hoje do conselho do meu instituto. Demiti o Xico Graziano, que está comigo também. No caso do Clóvis, o motivo foi um discurso que foi parar na imprensa como se fosse um choque com o que defendia o Malan. Você não pode permitir choque público com o ministro da Fazenda. Não era a intenção dele, mas intenção é uma coisa…O senhor então discorda do que disse o ex-presidente Lula, que a opinião pública morreu?
FH: Eu discordo. Se tivesse morrido, não teria acontecido tudo o que acontece, inclusive agora.E como o senhor vê o papel da opinião pública?
FH: O que é a opinião pública aqui? Antigamente era quem lia a imprensa. Basicamente era isso. Agora é quem vê a televisão e a internet. E isso faz pressão
Não morreu, não, é o contrário.O senhor identifica um novo momento na sociedade, nesse aspecto?
FH: Ah, não tenho dúvida. E crescentemente vai ser assim, você vai ter uma influência cada vez maior da sociedade conectada, que se manifesta cada vez mais. É curioso porque essa conexão pode produzir “derrubamentos”, derruba alguém, mas não constrói, porque não tem como fazer a coisa funcionar. É para rupturas. Veja o que aconteceu agora no mundo árabe. Dá o contágio, pega, e se movimenta. Agora, isso não dispensa a ação institucional. O problema hoje é que você tem uma sociedade que está se conectando crescentemente, e o lado institucional não sabe se relacionar com isso. Dá a impressão de que algumas instituições envelheceram, não percebem que têm que mudar e não sabem para que lado vão.Por exemplo?
FH: Qualquer pesquisa de opinião põe o Congresso em último lugar. É sintoma de que a instituição não está sendo aceita pela sociedade tal como é. E a sociedade não toma conhecimento do Congresso. Sofre as consequências de algumas decisões, mas não se preocupa; no dia a dia, se preocupa com outras coisas. Pode ver: quais são os temas debatidos na internet e quais os debatidos no Congresso? São dois mundos. Acho que esse é o sintoma de um problema grave na sociedade atual. Como o Congresso é indispensável e os partidos também, é um problema. Porque não vai ter jeito sem partido e sem Congresso.Não se pode dizer que é porque o Congresso brasileiro é muito ruim?
FH: Não, porque é um fenômeno que acontece no mundo inteiro.’Acho que estamos um tanto sem estratégia no Brasil, no geral’O GLOBO: O que falta para o Brasil chegar a ser um país de primeiro mundo? Quando o senhor saiu, admitiu que não tinha conseguido resolver a questão da segurança, e disse que o presidente que resolvesse isso…
FERNANDO HENRIQUE: O que falta? Não é renda, porque ela está encaminhada. As empresas brasileiras, privadas e públicas, avançaram. É uma coisa importante: a empresa pública brasileira, em função do que eu fiz, virou empresa, deixou de ser repartição pública, então ela tem capacidade. A Petrobras, por exemplo, não foi só quebrar o monopólio; nós mudamos como é que opera, para competir. Não estávamos preparando para privatizar, mas para funcionar como empresa privada, sem influência do setor político. Bom, então as empresas avançaram, a mídia avançou, parte da universidade avançou. O que não avançou? O acesso à Justiça. Toda a questão de segurança está melhorando, mas muito lentamente. Você não tem ainda cidadania. Tem acesso à educação, mas a qualidade deixa a desejar. Tem acesso à saúde, mas o problema também é de qualidade. Saímos da fase de escassez para uma fase do tem mas não serve, tem mas não funciona. Em vários aspectos. Talvez a coisa seja educação mesmo. Porque ter PIB alto é bom, mas a Dinamarca tem um PIB menor que o nosso…O que deveria ser feito para melhorar a educação? O atual ministro da Educação diz que não pode ter um choque, que é um processo lento…
FH: É verdade. Eu não acho que o ministro atual seja um mau ministro. Paulo Renato foi um bom ministro. Portanto, a educação teve bons ministros. Deixe-me ser um pouco mais amplo. Acho que estamos um tanto sem estratégia no Brasil, no geral. Não estou falando só do governo. Tenho horror a essa ideia de que falta um projeto nacional, porque isso é uma visão totalitária, a famosa utopia totalitária. Acho que não é isso. Numa sociedade democrática você tem de ter uma convergência de objetivos. Não é alguém que, com uma alavanca de governo ou partido, faz. Essa é a grande diferença entre o PT e o PSDB. O PT acredita que o partido toma conta do Estado, e que o Estado muda a sociedade. Ele não acreditava nisso no passado. Ele nasceu da sociedade, mas esqueceu disso. No fundo, é mais autoritário. Mas precisa ter uma estratégia que seja convergente. O que todos queremos? Queremos passar de uma sociedade rica e desigual para uma só mais igualitária ou queremos mais que isso? Cuba e Coreia são igualitárias. Igualdade é um valor, mas não é absoluto. Precisamos querer mais do que isso, uma sociedade com valores de participação, democracia, liberdade, respeito ao indivíduo, de Justiça. Então, acho que não temos uma visão compartilhada do futuro. Aqui se tomam grandes decisões sem o país saber. As decisões sobre petróleo, ninguém discutiu. Sobre ter mais usinas nucleares, ninguém discutiu. Falta a sociedade se engajar nessa questão. Na educação é a mesma coisa. Vamos fazer o trem-bala! Por quê? Pode ser que seja necessário, mas não foi discutido. Voltamos a um período militar, em que você não transformava em debate público as decisões de Estado. Se não tem isso, somado a uma sociedade que não confia nas instituições, como ter uma convergência de todos? Não tem. Fica cada um por si e Deus por todos. E sabe quem manda? É o mercado, o que comanda mais hoje é o mercado, não o Estado. Eu sou contra isso. Numa sociedade democrática, não pode ser o mercado que comanda, tem que ser a sociedade.Mas no seu tempo de presidente, quais foram os grandes temas? E acha que a sociedade se engajou e discutiu?
FH: Reforma agrária, previdência social, estabilização. Como é que fizemos a estabilização? Não foi impondo. Dissemos quais eram os passos, o tema… O Congresso discutia. Nos últimos anos, o Congresso perdeu ressonância na sociedade porque carimba medida provisória.Mas será que a sociedade também não perdeu o ímpeto?
FH: É possível que sim, em decorrência da prosperidade. Isso não é culpa de ninguém. Estou aqui fazendo uma análise sociológica. Há uma desmobilização que vem junto da prosperidade. A prosperidade é boa, mas não é suficiente para se chegar ao primeiro mundo. Acho que estamos melhorando muito. Tenho 80 anos. Nasci em 1931. Pensa o que era o Brasil quando nasci.O senhor nasceu com a revolução de 30.
FH: Junto com a revolução de 30, em que minha família toda estava metida. O que era aquele Brasil? Quanto havia de analfabetos? 70%, 75%. Hoje são 10%. Só havia uma estrada pavimentada, que ligava o Rio a Juiz de Fora. Quando vim para São Paulo, tudo o que vocês veem lá (apontando para a janela de seu apartamento, de onde se vê o bairro de Perdizes) era lama. Isso era o Brasil, não tinha estrada. Então mudou tudo no Brasil, mudou tudo, e para melhor.Na sua biografia, o senhor disse que conheceu a pobreza por livros, que era uma consequência desse Brasil, onde a pobreza era uma coisa distante…
FH: Distante. Eu fiz pesquisa no início da minha carreira sobre negros. Andei muito em favelas, e você entrava na maior tranquilidade porque a diferença de classe era tão marcada que o pessoal não mexia. Estudei no Colégio Perdizes. Tinha a serraria do Maluf, que era do pai dele, nessa rua. Então, me lembro que tinha mais adiante a fábrica do Matarazzo. Na hora do almoço, ficavam os operários na calçada, comendo na marmita, e, se passasse alguém engravatado, eles abriam espaço… Então a sociedade do passado é inaceitável. A de hoje é mais igualitária, as pessoas reivindicam, olham cara a cara. Mudou para melhor.Quais os grandes momentos de transformação no país nesses 80 anos? O primeiro choque, o senhor lembrou, foi dado por um Estado forte; não há uma contradição aí?
FH: Não, naquele momento não tinha alternativa. E até hoje o Estado é fundamental. Não gosto é da ideia de um projeto (imposto). Mas claro que foi, o Estado é fundamental, e até hoje. E, curiosamente, as grandes transformações econômicas do Getúlio, ele tentou não fazer pelo Estado. Volta Redonda, ele tentou fazer pela iniciativa privada, mas não tinha como ser. Quem fez a Embraer foi a Aeronáutica. E certamente haverá hoje muitas coisa que ou o Estado faz ou ninguém faz. A ideia de pensar que é só o mercado, não! O Estado tem um papel importante. Agora, o que não pode é ter autoritarismo.Mas quais os momentos de grande transformação?
FH: Para mim, primeiro, a Segunda Guerra Mundial. Meu pai era militar, nós mudamos de novo para o Rio, Copacabana tinha blecaute, ensaios de bombardeios. Então, na época da guerra, o Brasil deu um salto porque fizeram a chamada substituição de importações forçada. Não podia importar, começou a se produzir aqui. Foi um boom da indústria têxtil e urbanizou mais. Mais tarde, Getúlio se beneficiou disso. Depois você tem um período bastante difícil que é o final do presidente JK. Ele fez o endividamento e fez a abertura também, não a abertura da economia, mas trouxe o capital estrangeiro para cá. Internacionalizou a produção daqui, não internacionalizou a economia brasileira, e fez Brasília, deu um certo otimismo. E, daí por diante, os anos 60 foram muito difíceis, veio o golpe e foi muito complicado. Em 70, houve crescimento econômico, mas os indicadores sociais não melhoraram tanto. Como houve uma explosão urbana, a administração pública entrou em colapso. Aumentou a desigualdade. Aí, quando chegou nos anos 80, isso ficou mais sensível, inflação, e não sei o quê… Nos anos mais recentes, para mim, o grande marco é a Constituinte, a Constituição, que assegura as liberdades, dá voz ao povo, permite organização, isso é consequência das Diretas já, das greves do passado. Daí por diante, não tem governo que não tenha que olhar para o povo, porque o povo taí, ele pode gritar, pode ir ao tribunal , ele reclama, não faz mais greve. No meu governo, acabou (greve).Voltou a fazer agora…
FH: Agora um pouquinho, né, por causa da inflação. Então acho que a Constituição desenhou um futuro social-democrático para o Brasil, deu muita liberdade, inventou o SUS, permitiu reforma agrária, e com um problema: ela foi em 88 e o Muro de Berlim caiu em 89. Então ela manteve o corporativismo, com monopólios…E isso não tem nada a ver com a social-democracia. Tem mais a ver com o PT?
FH: Nada a ver com a social-democracia, mas com o PT. A estrutura sindical getulista… O PT aderiu a isso. O PT na Constituinte era libertário, ele votou contra a estrutura sindical. Eu fui dos poucos que votei junto com o PT, para quebrar o fascismo que tem ainda hoje na CLT, para empresário e para trabalhador. Os dois se juntaram porque os dois se beneficiaram do dinheiro indevido, que é nosso, para manter essas burocracias enormes, sindicais, que não têm mais representatividade efetiva da base. Bom, de qualquer maneira, o segundo passo importante foi a abertura da economia no governo Collor, porque forçou o Brasil a entrar na competição. Fui ministro da Fazenda logo depois, e a pressão que eu sofria dos amigos de São Paulo era enorme para não continuar a abertura.Foi por causa dessa pressão que o senhor não abriu tanto?
FH: Eu abri pouco, mas não foi por causa dessa pressão. Não dá para mudar tudo de uma vez. E ao mesmo tempo jogamos o BNDES para compensar porque várias indústrias foram abaladas. O BNDES teve papel essencial na reconstrução dessa estrutura, e continua tendo. Então o segundo passo foi esse. O terceiro foi a estabilização da moeda, com tudo o que isso significa. O quarto foi a reforma do Estado, que incluiu as privatizações, as agências reguladoras, transformar o Estado numa peça eficiente. Vou dar um exemplo: o SUS só havia no papel. Foi feito por nós. Hoje, bem ou mal, tem o SUS aí. Na Previdência ficamos canhotos porque fizemos só o fator previdenciário que o Congresso derrubou e o Lula vetou. Houve mais mudanças, menores. Criei o Ministério da Reforma Agrária, o Pronaf, revolucionamos a agricultura… E quinto passo: as políticas sociais, que começam no meu governo e explodem no governo do Lula. Essa é sequência das transformações mais recentes.O que falta?
FH: Houve certos retrocessos na questão do Estado. Estão aí os aeroportos como prova pura disso. As estradas também não avançaram mais.O Estado ficou mais forte.
FH: Mais forte para quê? Não está mexendo na infraestrutura. A economia ficou mais forte, e o Estado está fortalecendo uma economia forte, às vezes desnecessariamente, dando dinheiro para fusões, o que é discutível. Mas não houve uma expansão da infraestrutura. Porque ficou no Estado, e o Estado não tem os recursos, às vezes. Eu reitero: não sou privatista, não sou neoliberal, mas tem coisas que o Estado pode e coisas que não pode fazer. No caso dos aeroportos, é gritante que tinha que fazer concessão e não foi feito. Mesmo no caso da energia elétrica, o dinheiro que está indo para Belo Monte é público. Se quiser fazer o trem-bala, não tenho nada contra, mas bota dinheiro da iniciativa privada. Por que o meu, o seu, o nosso? As agências reguladoras perderam força, a Petrobras tem penetração política, então isso é retrocesso.Mas e de bom?
FH: Primeiro, os programas sociais…Pela análise do senhor, apesar dos retrocessos, não houve nada ainda que fizesse andar para trás, que comprometesse?
FH: Não. O PT vive dizendo: o PSDB não tem projeto. Como não tem projeto? Vocês (os petistas) estão cumprindo!Mas o que o PT fez de bom? FH: A expansão da política social.
FH: Eu não faria a politização dela, de (atuar como) novo pai dos pobres, não. Mas a expansão foi positiva. Na educação, acho que não paralisaram. Houve alguns tropeços, mas, no geral, historicamente, a linha está ascendendo, não está caindo.O que pode atrapalhar essa linha ascendente?
FH: O que pode atrapalhar é o seguinte: A Previdência tem problemas, o sistema tributário também, o mercado de trabalho também… Não houve reforma nenhuma. Trocamos a reforma pelo bem-estar, e não houve um avanço grande de investimentos – agora está começando a ter. O crescimento está se dando mais pelo consumo do que pelo investimento. Isso vai até certo ponto e depois para. É o seguinte: o futuro vai depender de educação, tecnologia e inovação. O Brasil tem hoje uma situação privilegiada porque a China voltou a ter um papel central no mundo e ela precisa de comida e matériaprima. E o Brasil tem espaço para continuar a plantar e tem boa mineração. Mas isso tem um preço: nossa indústria começa a dar sinais preocupantes, o número de empregos aumentou, mas os empregos são de baixa qualificação. País desenvolvido é país de emprego bom.Mas está melhorando a qualidade do emprego.
FH: Não, não está. A formalização uma coisa positiva no governo Lula. Mas a propaganda diz “milhões de empregos”, quando não é emprego novo. Passa a contar porque foi formalizado, mas já existia. Com essa mudança do mundo, o Brasil não pode dispensar o crescimento industrial. É normal que o serviço cresça bastante, em todas as economias. Mas qual serviço? De qualquer maneira, volta ao tripé: educação, tecnologia, inovação. Por quê? Vamos ter de competir. Temos que escolher: vamos ser bons no quê? Não podemos continuar com a visão autárquica que vem do passado de querer ser bom em tudo. Tem que escolher e fazer as apostas. Creio que o BNDES tem um pouco dessa visão. Estou falando de escolher em que setores um país tem que investir. Pega um país, a Coreia, que esteve muito atrás do Brasil e hoje está à frente. Tem de ter um certo ingrediente de pragmatismo na nossa formação, que não temos. Eu não sou pessimista quanto a nada disso, só estou assinalando que é por aí que temos que caminhar. E acho que essa coisa do governo Lula de que “eu sou tudo, o bom” e o outro é mau, isso atrapalha a convergência nacional.O senhor está dizendo que o populismo, não só no Brasil mas em qualquer lugar, é um desastre para a convergência?
FH: É um desastre, não permite esse tipo de convergência, e fica então muito mais propaganda do que consenso nacional. E depois que o líder sai, cadê a propaganda?O senhor considerou as privatizações um dos grandes avanços. Mas que coisa estranha acontece que, em toda eleição, ela vira um espantalho?
FH: Faltou luta do PSDB, faltou reafirmar com força que aquilo foi positivo. E é tão fácil! Nós não nos orgulhamos de a Embraer vender aviões no mundo todo? Temos quantidade de celular que cresce exponencialmente, e todo mundo gosta. A Vale é a segunda maior empresa de minério do mundo, nos orgulhamos disso, mas ao mesmo tempo…Foi erro na comunicação?
FH: Sim, mas não só. A esquerda brasileira, e eu também, foi criada com a ideia de que se não é estatal não é bom. Uma parte importante do pensamento político brasileiro é assim, e no PSDB também.‘Lula é mesquinho ao renegar o que houve antes’
O GLOBO: Do que o senhor se arrepende nestes 80 anos?
FERNANDO HENRIQUE: Ah, aí você vai passar a tarde toda aqui (risos).Do que mais se orgulha?
FH: Vou dizer uma coisa que pode parecer clichê. É da minha família. Eu tenho um apoio tão forte, tinha da Ruth e tenho dos meus filhos. Em todos os eventos da minha vida, o que não é fácil, é inacreditável. Meus filhos me ligam incessantemente e vêm aqui, se preocupam. O que me dá possibilidade de viver com independência e vigor é que tenho apoio brutal da minha família e dos amigos de muito tempo. Isso é necessário.E o arrependimento?
FH: O arrependimento? Olha, se for na política… O resto eu não posso nem falar, porque tenho tantos… (Mas na política) é aquilo que eu disse, é conveniente ter a noção de que não dá para mudar tudo de repente. Acho que forcei demais para mudar a Previdência, e isso me custou muito caro. Não precisava tentar tanto. Nós queríamos endireitar o Brasil todo e de uma vez. Não é assim. Eu podia ter sido mais suave, me desgastaria menos e talvez tivesse conseguido mais.Como era a rotina na Presidência?
FH: A coisa mais atormentadora é quando chega nove da noite, entra o chefe da Casa Civil com uma pilha de documentos para assinar…E depois não se pode dizer que assinou sem ler, né?
FH: Mas não lê, né? Porque o que acontece é o seguinte: tudo passa por vários crivos, os dois principais são o advogado-geral da União e o chefe da Casa Civil. Passou pelo ministro, passou pela Casa Civil, pela AGU e depois pela Presidência. O chefe da Casa Civil, quando passa, ele te informa do que se trata. Se for uma coisa mais delicada, você discute. Nesta discussão que está aí hoje (sobre a manutenção do sigilo eterno para documentos de Estado)… Foi no dia 31 de dezembro de 2002, último dia do governo. Porque tem dois canais, ou vem pela Casa Militar ou vem pela Casa Civil. Bem, quando veio esse negócio, eu disse (depois): não é possível que eu tenha assinado isso. Aí chamei o Pedro Parente: vê se é possível que eu tenha assinado isso. Reconstituiu, não passou pela Casa Civil. Foi pela Casa Militar. Sem a assinatura do general Cardoso. Mas eu não sabia. E uma coisa me chama a atenção: nunca nem o Itamaraty nem as Forças Armadas falaram nesse assunto comigo, nunca pressionaram.Então o senhor assinou sem ver? E quando soube?
FH: Quando saiu no jornal, um ano depois. Como eu assinei um negócio proibindo eternamente? Mas Lula nunca desclassificou. E surpreende que o Collor e o Sarney tenham se posicionado (para manter o sigilo eterno), então deve haver algum problema…É porque está chegando perto do governo deles.
FH: Mas será?Não faz mais sentido, mas dizem que a razão é a Guerra do Paraguai e que o Brasil não ficaria muito bem na fita…
FH: Houve outra vez em que assinei também, com parecer e tudo aprovado, uma coisa que deixou a Ruth furiosa, porque restringia o atendimento a aborto. Quando apareceu, você imagina lá em casa! Mas nesse caso tinha pareceres… passou por um canal do Ministério da Saúde. Aí, depois, pedi ao Congresso que rejeitasse, ele rejeitou.Provavelmente era um período próximo de eleições…
FH: É possível. Então pode acontecer. Mas, que eu me lembro, foram esses dois casos. Agora é eletrônico, né?, mas eu me lembro de que o Hargreaves ia para a casa do Itamar, com pilhas e pilhas, e ele ficava desesperado também. É muito cansativo esse negócio de ser presidente, não sei por que o pessoal quer tanto… (risos)Por que o senhor quis tanto?
FH: Pois é, por engano. (ri)Duas vezes, presidente?
FH: Eu sou meio tonto…O senhor reclamava muito da solidão do poder.
FH: Isso sim. Isso é insanável. Porque não é a solidão de pessoas. É que não adianta ter um monte de gente em volta, e você não pode partilhar. Porque, em geral, quando vem uma discussão para a mesa do presidente, é porque as pessoas não se entenderam antes, tem ministro brigando. Não vem coisa boa para o presidente. Só vem bola dividida. E a função da Casa Civil é arredondar a bola. Mas, quando eles não conseguem, vem para você, e aí você tem que decidir.O senhor falava que o Palácio é um lugar de muita intriga.. .
FH: Palácio é um lugar de muita intriga. Eu fui funcionário das Nações Unidas – antes eu era professor -, e lá é uma burocracia pesada, a base de organização daquilo é inglesa, e tudo é hierarquizado, inclusive o número de janelas a que você tem direito na sua sala. Mais janelas, mais poder. Eu nunca fui muito desse tipo de coisa.E no palácio…
FH: Eu mal conheço o Palácio da Alvorada. Eu conheço a sala onde eu andava, mas o presidente não vai às áreas de trabalho. O presidente anda com um séquito, e não dá. Quando o Lula se elegeu, eu falei com o Gushiken, que foi lá, que esse negócio de palácio é complicado, toma cuidado. Porque, se puser muito ministro no palácio, vai dar briga. Não é o ministro que briga, são as equipes. Quanto menos ministro no palácio, melhor.O senhor já disse que no Palácio não pode haver dois fortes.
FH: Não pode. Tem que ter um único, porque se não vira briga burocrática, vira uma coisa…E agora com três mulheres?
FH: Mulher talvez se entenda melhor. Em matéria de gênero, eu não entro. (risos)Como é conciliar essa solidão povoada com o poder supremo que a função confere? O presidente se sente um pouco rei?
FH: Se você se deixar levar pela sua imaginação, vira rei. Se tiver um senso realista, vê que aquilo é transitório. Porque você mora numa repartição pública, por mais bonito… O Alvorada é lindo, a parte superior dele é isolada, e, no meu tempo, só morávamos eu e a Ruth. Eu nunca tive ajudante de ordem morando lá, ninguém. Só os garçons podiam entrar sem avisar. Mas você desce ali, e é uma repartição pública. Moram lá, entre guardas e funcionários do serviço, de 100 a 150 pessoas. Você vai passear no jardim, olha para trás, tem duas pessoas atrás de você. Então, você não está na sua casa, por mais que seja agradável. Você vai nadar, tem alguém te olhando para não morrer afogado. Ou para te afogar (risos). Agora, eu sempre procurei não mudar meu estilo pessoal de viver. Eu e a Ruth. Então, quando vínhamos para São Paulo, íamos para o nosso apartamento aqui. Sempre estive com os mesmos amigos, e aí não tem jeito. Você não vai ser rei. Você é um igual. Tem algumas restrições que são grandes, você não guia automóvel…Não abre portas.. .
FH: Bom, isso eu sempre corria para abrir, mas sempre chegava alguém antes. Por que, quando terminou o governo, eu e Ruth fomos correndo para a Europa? Eu andei de metrô, fiquei num apartamento da dona Maria Sodré. Era bom, mas pequenino. De propósito, para cair na real.O senhor não teme ser vítima de um conservadorismo moral com essa sua campanha a favor da descriminalização da maconha?
FH: Em qualquer outro país, eu temeria. A nossa sociedade é bastante aberta.O que o levou a se interessar por esse tema?
FH: Depois que deixei a Presidência, disse que iria me afastar da política partidária. Disse que iria me afastar e procurar atuar no campo da política de participação cívica. Nesse caminho, o Kofi Annan me colocou como assessor dele para fazer um relatório sobre como a sociedade civil poderia ter uma conexão com a ONU. Depois fiz outro relatório sobre a Unctad. Fiquei presidente do Clube de Madri e organizei uma reunião sobre terrorismo e democracia na Espanha. Depois me meti na questão da Aids. Estive com o Mandela na Noruega, na França, e foi a partir daí. A droga faz parte do mundo global. Li um livro de um amigo chamado Moisés Naím (escritor venezuelano) que mostra como houve a globalização do crime. Foi por aí que entrei nessa questão da droga. Não pela coisa local. Guerra às drogas só não resolve. Você tem que mudar de combater só a produção para reduzir o consumo e dar tratamento e educação.Se um filho adolescente chegar para o senhor e admitir que fuma maconha, o que diz?
FH: Você sabe que isso faz mal. Eu não posso dizer que é pior que o cigarro porque não é. Mas vou dizer que ele é livre para fazer isso, mas questionarei onde ele foi obter a droga, por que ele foi no crime? É melhor regular do que fingir que não existe o problema, porque o seu filho fuma, e ele vai comprar do crime. Agora, se for cocaína, crack, tem que ir para o tratamento.Isso chegaria ao ponto de se vender livremente a droga?
FH: Não. O álcool não deveria ser vendido abertamente. Não é na Europa, nos Estados Unidos, onde menor de 18 não compra. Maconha tem dois problemas gravíssimos. Um é a intensidade, e o outro é que, para obtê-la, você vai ao crime. Eu não sou favorável à legalização.O PSDB reagiu com preocupação ao seu engajamento, dizendo que essa não é a posição do partido?
FH: Eu até entendo e acho que essa matéria não está no momento de ser politizada.Mas o senhor não teme que numa próxima eleição isso vire munição contra o seu partido?
FH: O Tarso Genro era a favor, o Paulo Teixeira é a favor. Não sou a favor das drogas. Sou contra o uso de drogas. As pessoas não viram o filme, têm de ver.O jogo político favorece a hipocrisia?
FH: É possível que sim. Como você aborda esses temas eleitoralmente? Eles vão ser abordados em forma de chantagem. Já fumou maconha ou não? É a favor do aborto ou contra? Acredita ou não em Deus? Eu nunca disse coisas contrárias ao que penso. Sabe como eu respondi à pergunta se eu acreditava em Deus? Disse que isso não era pergunta que se faça. Religião é questão de foro íntimo. Você tem que perguntar ao candidato a prefeito se ele respeita as religiões e não no que ele acredita. Foi a minha resposta, e disso interpretaram que eu disse que era ateu. Na campanha, qualquer que seja sua resposta, vai ser feito assim. Perguntar essas coisas faz mal à sociedade, porque eles (os candidatos) não vão poder responder, e é só para atrapalhar. Esse tema não deveria ir para a política.O senhor acha que a mágoa do presidente Lula em relação ao senhor é por ter perdido duas vezes no primeiro turno?
FH: Não sei se ele tem mágoa. Quando estamos juntos, a relação é boa. O Lula tem essa língua solta, e eu também. Acho que o Lula ficou mesquinho, e ele não precisava renegar o que estava seguindo para ter a glória dele. Ele achou que, para ele crescer, tinha que me botar para baixo. Um cresce no ombro do outro e vai ficando mais alto.Como o senhor vê a postura da presidente Dilma?
FH: Foi diferente. Eu até telefonei para ela para agradecer. Eu fiquei feliz com a carta dela, que me deixou bem satisfeito. Ela reconhece algumas coisas. Meu antecessor, Itamar, embora ele se queixe, não há uma referência minha a ele que não seja elogio. Sem o Itamar, não haveria o Plano Real. Eu acabei de falar do Collor, que fez a abertura. História é História, você não pode borrar a História. (…) Acho que é muito pretensioso você imaginar que os outros não fizeram nada. Se eu dissesse o que o Lula diz, eu seria execrado. O Lula não é (execrado) porque foi trabalhador, pobre, e isso dá a ele uma espécie de imunidade para dizer coisas que não são aceitáveis. Agora, acho que chega.O senhor nunca voltou aos dois palácios?
FH: O Lula nunca me convidou para tomar um café. Tanto o Itamar quanto o Sarney foram ao Palácio. Fiz de propósito um gesto para o general Geisel, o convidei para almoçar. Fiz isso porque tinha sido o primeiro presidente punido pelo AI-5 e eu queria dizer que acabou aquela época. Não iria esquecer o que aconteceu, mas a época é nova. É uma coisa de civilidade. A Dilma me convidou para ir lá. O Lula me convidou para ir com ele ao enterro do Papa, e eu fui. Acho errado isso (de Lula nunca ter chamado para um café, uma conversa), tanto mais porque eu e o Lula tínhamos relação antiga. Vou dizer uma coisa: quando houve o mensalão e razões óbvias para o impeachment do Lula, eu disse que não achava uma boa. Justifiquei que eles iam colocar as ruas contra nós e, por outro lado, ficaria uma marca indelével muito ruim para o país.Como o PSDB pode fazer essa aproximação com o povão?
FH: Como temos os governos de São Paulo e Minas? Porque temos o apoio do povão. Essa é uma outra imagem que o PT joga. A diferença não é povão no voto, mas o mecanismo organizado de controle de movimentos sociais, que é o que eles têm. O PT tem o controle dos movimentos sociais. Como todos os sindicatos mamam na mesma teta, que é o dinheiro público, está tudo acalmado.O período de grande crescimento econômico não facilita essa identificação?
FH: Sem dúvida. A economia está por trás de tudo.Ao sugerir que não houvesse impeachment de Lula, o senhor não agiu conforme aquele pensamento político brasileiro de ser conciliador sempre?
FH: Não. Eu acreditava que eles iam mobilizar a sociedade, e você não faz impeachment sem o povo. Aí vira golpe, e iam nos acusar de golpismo a vida inteira. Segundo, foi essa consideração mais histórica. Eu apoiei que o PSDB levasse o caso para o tribunal, porque aí poderia haver a nulidade da eleição. Mas seria uma coisa traumática. Não sei se seria bom para a consolidação da democracia.
Fernando Henrique: Lideranças políticas celebram a ousadia do sociólogo que mudou os rumos do desenvolvimento do Brasil
Homenagem celebra a ousadia do sociólogo que mudou os rumos do desenvolvimento do Brasil
Fonte: PSDB-MG
80 anos de FHC
“Temos hoje uma democracia e um desafio pela frente: uma sociedade mais decente”, diz FHC em solenidade no Senado
O PSDB prestou uma grande homenagem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pelos seus 80 anos, nessa quinta-feira, em Brasília. Autoridades de todos os poderes da República, juntamente com populares de várias partes do país, lotaram o auditório Petrônio Portela, no Senado Federal, para comemorar a data juntamente com o sociólogo que, de forma ousada, mudou os rumos do desenvolvimento do Brasil. Parlamentares de todos os partidos políticos, ministros e artistas reconheceram a importância da gestão de FHC, marcada pelo Plano Real, a estabilização da economia brasileira e as reformas que levaram à modernização do país.
Atual presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique Cardoso ficou emocionado quando lideranças do PSDB e de vários partidos destacaram sua trajetória política. Ele destacou os avanços conquistados no país, mas reiterou que ainda há muito a ser conquistado.
“Hoje temos uma democracia. Mas, falta muito para caminhar. Temos um desafio pela frente: criar uma sociedade mais decente, onde todas as pessoas se sintam mais seguras pela lei, em suas vidas cotidianas, que deixam um futuro para seus filhos, com uma economia que continue em desenvolvimento, um mercado que se desenvolva, mais transparente, onde tantas mazelas desapareçam. A educação melhorou muito. O SUS hoje existe. Avançamos muito na infraestrutura. Muitos têm acesso. Agora, precisamos chegar a um patamar que não basta quantidade, mas qualidade. Isso é um desafio. Não chegamos ainda a um país onde todos se sintam partícipes”, disse.
Ao lado de lideranças políticas, parlamentares, governadores, ex-governadores e ministros do Supremo Tribunal Federal, Fernando Henrique Cardoso agradeceu as homenagens e celebrou duas de suas obsessões: o desenvolvimento e a democracia.
“Dois temas predominaram minha geração. No começo, era desenvolvimento. Vivíamos sob a tragédia de um país pobre, doente, analfabeto, de injustiça social, diferentes classes. Achávamos que tínhamos que crescer a economia, desenvolver. O tema era recorrente, e alternava com a democracia, por causa do autoritarismo, das ditaduras que se impunham”, lembrou o ex-presidente.
A homenagem foi marcada por momentos emocionantes. A oradora da cerimônia, Fernanda Montenegro apresentou uma série de filmes mostrando fotos com os principais episódios da vida pessoal e da carreira política do ex-presidente. Músicas que entoaram as campanhas eleitorais de FHC também foram lembradas.
Veja abaixo depoimentos de lideranças políticas do PSDB e outros partidos, ministro e atriz reconhecendo o compromisso de FHC com os interesses do Brasil.
Atriz, Fernanda Montenegro, oradora da solenidade
“Acredito que cada um de nós carrega o seu próprio significado sobre este ato que hora realizamos. Um dos significados, no entanto, único, a liberdade. Além da liberdade, a coragem, a inteligência, o preparo, o talento, o reformador, a visão de futuro e o seu intenso amor pelo Brasil e por sua gente. Dizem os especialistas que, quando esses valores convergem em um único líder, nasce um estadista.”
Presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PSDB-PE)
“Nada podia ser mais relevante para a democracia do Brasil do que o amplo reconhecimento da obra, do trabalho e da vida do grande líder Fernando Henrique Cardoso. Ele de alguma forma sintetiza todo o período da vida brasileira. Criou e deu fundamentos aos avanços que o país fez. Eles nos deu uma lição de democracia. É muito fácil dizer que olhar para o futuro do Brasil implica em ouvir o que Fernando Henrique tem a nos dizer e diz com maior disponibilidade, com maior espírito público e de interesse nacional.”
Senador Aécio Neves (PSDB-MG)
“Fernando Henrique é um ser plural, capaz de reunir, numa só personalidade, inúmeras facetas. Um homem de estado capaz de ousar, de transformar as estruturas desse país. Um grande pensador, vanguardista, intelectual sempre à frente de seu tempo. Um amigo, sempre sedutor, capaz de assentar numa mesa e trazer para si todas as atenções; de iniciar uma conversa, sempre falando com competência, com uma memória privilegiada sobre temas que interessam a todos, e uma conversa que ninguém quer que termine. Não se trata mais de homenagear o homem e a sua obra, o que estamos fazendo é resgatando a verdade sobre um tempo.”
Presidente do PSDB de Minas Gerais, deputado federal Marcus Pestana (PSDB-MG)
“O Brasil é outro. O governo Fernando Henrique Cardoso transformou profundamente esse país. Foi um presidente que merece um destaque absoluto na história do Brasil. Os registros históricos hão de fazer justiça com um governo que introduziu profundas transformações na construção da cidadania com a introdução de políticas sociais que dissessem muito ao dia a dia do cidadão.”
Governador de Alagoas, Teotônio Vilela (PSDB-AL)
“Meu aplauso pelo entusiasmo, pelo orgulho, pelo intelectual, homem disposto a polemizar, a descobrir novos mundos, a desfraldar bandeiras, a partir de seus 80 anos. Independente da idade, ninguém pode se dar ao direito de deixar de ser um cidadão.”
Presidente da Câmara dos Deputados, deputado Marco Maia (PT-RS)
“O povo brasileiro sempre reconheceu Fernando Henrique como um homem comprometido com os valores e os interesses maiores. Mesmo nas nossas divergências é importante que sejamos capazes de reconhecer os homens de bem deste país. Vossa excelência é um homem de bem nesse país, que construiu sua história alicerçado nessa perspectiva. Vossa Excelência é responsável por estarmos vivendo em um país verdadeiramente democrático. Um homem que lutou e fez da sua história, uma história de luta pelo país.”
Presidente do Conselho Político do PSDB, José Serra, (PSDB-SP)
“Existe uma obra que afeta permanentemente o curso dos eventos públicos, que se torna referência para a renovação e consolidação de políticas públicas, que consegue dividir a história de seu país. O grande homem público é aquele que divide a história do país entre antes e depois dele. Feliz o partido que pode homenagear homens da estatura de FHC.”
Presidente do Instituto Teotônio Vilela, Tasso Jereissati (PSDB-CE)
“Há bons e maus políticos. Há políticos honestos e desonestos. Mas, há poucos estadistas como Fernando Henrique. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dedicou-se à construção de uma visão nacional para o partido.”
Secretário-geral do PSDB, deputado federal, Rodrigo de Castro (PSDB-MG)
“Estamos fazendo uma reflexão da importância dos anos governo Fernando Henrique Cardoso para o país. A estabilidade econômica, as reformas que iniciaram a abertura do país para o exterior, o início dos programas sociais. Vivemos um período, nos últimos 15 anos, de muito desenvolvimento. Isso não é fruto de um líder sozinho, mas de uma sequência de trabalhos. O ex-presidente Fernando Henrique teve um papel fundamental para os ganhos que a população vem obtendo nos últimos anos.”
Ministro da Defesa, Nelson Jobim (PMDB-RS)
“Fernando Henrique sabe ouvir a todos, sem a pretensão de estar sempre certo. E isso mesmo durante o exercício da Presidência. Em nossas reuniões, nunca o vi destratando algum de seus ministros. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nunca pretendeu, nem nunca quis, qualquer reverência por parte de ninguém.”
Deputado federal, Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG)
“Nós, do PSDB, temos a sorte de conviver com ele, assistir as suas aulas e receber suas orientações. Um homem cuja dimensão de seu trabalho só o tempo determinará exatamente. Ele mudou o país e deu a ele um destino novo, do qual os brasileiros irão se beneficiar por muitos anos.”
‘Não é a primeira vez que deturpam o pensamento de FHC’, disse Xico Graziano em artigo
Verdade e mentiras
Fonte: Artigo Xico Graziano – publicado em O Globo
Uma maledicência persegue as ideias de Fernando Henrique Cardoso. Ele discursa e lhe enviesam a fala; escreve, e lhe envenenam a palavra. Basta ver a recente confusão sobre seu artigo, onde defende que a oposição se aproxime da classe média. Disseram que FHC mandou desistir do “povão”. Uma maldade política.
Não é a primeira vez que deturpam o pensamento de FHC. Até dos gestos já lhe roubaram veracidade. Na campanha presidencial de 1994, o então candidato montou um animal que passava arreado em Belmiro Gouveia, sertão de Alagoas. Deu na imprensa: “FHC anda de jegue.” Não era jegue, mas um cavalo baio. Puro preconceito.
Sua mais famosa frase jamais foi pronunciada. “Esqueçam o que escrevi” foi a tradução maldosa do jornalista que o escutou responder, indagado, que nem tudo aquilo que redigira na época cepalina, anos 1960, ainda valia nos tempos globalizados da economia mundial. A declaração – uma obviedade intelectual – ocorreu em reunião com empresários no restaurante Rubayat, aquele existente na Alameda Santos, capital paulista. Eu estava lá.
Tem mais. Já na Presidência da República, FHC sofreu quando, querendo impulsionar a reforma da Previdência, criticou as altíssimas aposentadorias de certos funcionários públicos, taxando-os de “alguns vagabundos”. Na interpretação maliciosa, estourou a manchete: “Presidente diz que aposentado é vagabundo”. Sacanagem da boa.
Agora, ao se referir à classe média, FHC chamou a atenção sobre o importante fenômeno da ascensão social. Impulsionada pelo Estado e permitida pelas modernas tecnologias, a começar da comunicação aberta pela internet, a economia abre fantásticas oportunidades. Na cidade e no campo, milhões de famílias progridem a olhos vistos.
A política tradicional, incluindo o sindicalismo, não consegue atender às expectativas dessa gente progressista. O velho esquema consegue, a seu jeito, se aproximar das massas operárias, enquanto o populismo cuida de manipular os miseráveis. Mas a juventude, da idade e das ideias, mora longe daí.
Alguém disse que FHC defende uma guinada à direita do PSDB. Conclusão esdrúxula. Considerar o povo na “esquerda” enquadrando as novas classes médias na “direita” significa inverter o rumo da história moderna. Quem pensa assim está fossilizado pelos antigos axiomas ideológicos. Zero de século XXI.
Prestes a completar 80 anos, FHC mostra uma lucidez de raciocínio que espanta seus interlocutores. Nenhuma liderança política do país olha à frente como ele. Ajuda-o, com certeza, sua formação intelectual misturada pelas cores da política. O brilho do ex-presidente parece despertar inveja, ou ciúmes, de seus oponentes mais tacanhos.
Certos petistas aproveitaram a brecha dessa discussão para estocar que FHC nunca esteve próximo do povo. Coisa ridícula. Antes de muitos deles nascerem o sociólogo FHC já andava pelas favelas de Porto Alegre e São Paulo pesquisando a segregação racial. E o presidente FHC não teria vencido duas vezes o Lula, no primeiro turno, sem o apoio decisivo das massas.
Foi exatamente graças ao programa de estabilização da economia, conduzido por FHC, que o “povão” começou a ter seu ganho elevado, em termos reais. Com o resgate da sua moeda – e prestações fixas a pagar -, os eletrodomésticos e demais bens de consumo chegaram aos lares dos brasileiros pobres.
Há políticos que mentem deliberadamente. Os mentirosos compulsórios sempre apresentam algum trauma psicológico. Não sou especialista nesse ramo. Mas acho que os petistas se envergonham da época que denunciavam o Plano Real como uma impostura.
Depois, quando o adotaram, dele se beneficiando, sonham que mudaram o Brasil. Mas acordam à noite com pesadelos. Sabem que o autor da façanha se chama FHC.
XICO GRAZIANO foi deputado federal e presidente do Incra, no governo Fernando Henrique Cardoso.
Continuar na 75ª posição do IDH comprova inação do governo Lula
A divulgação feita nesta segunda-feira do ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) composto por 182 países e que coloca o Brasil na 75ª posição revela descompasso entre a importância do país no cenário mundial e a qualidade ainda insatisfatória de vida de seus habitantes. Esta é a opinião de líderes e parlamentares do PSDB para quem os avanços obtidos pela estabilização da economia a partir do advento do Plano Real deixaram de ser transferidos para a população nos últimos seis anos pelo atual governo. O IDH é feito pelo PNUD, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Para ser calculado, leva em conta números referentes à educação, saúde, expectativa de vida, renda e moradia das nações avaliadas. O ranking divulgado esta semana teve como base dados coletados em 2007.
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